Brasil já soma 100 mil vidas perdidas para a Covid-19, informa consórcio de veículos da imprensa em boletim extra

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Menos de cinco meses após o primeiro óbito pelo novo coronavírus no Brasil, o país chegou à marca de 100 mil mortes pela Covid-19 na tarde deste sabado, indica boletim extraordinário do consórcio de veículos de imprensa formado por O GLOBO, Extra, G1, Folha de S.Paulo, UOL e O Estado de S. Paulo. Os números são consolidados a partir das secretarias estaduais de Saúde. O total de vítimas fatais é de 100.240. A soma de infectados é de 2.988.796.

A iniciativa dos veículos da mídia foi criada a partir de inconsistências nos dados apresentados pelo Ministério da Saúde na gestão do interino Eduardo Pazuello. Em todo o mundo, apenas Brasil e Estados Unidos têm mortes na casa dos seis dígitos. O terceiro país com maior volume de óbitos na pandemia, o México, tem 51 mil mortes, segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins (EUA). Já são mais de 722 mil vítimas da Covid-19 em todo o planeta.

Desde o levantamento fechado da última sexta-feira, às 20h, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, São Paulo, Rio Grande do Norte e Roraima atualizaram suas estatísticas. Até o momento, são 21.732 casos de Covid-19 notificados pelas secretarias estaduais de Saúde desde a noite de ontem, além de 538 novas vítimas fatais.

O primeiro óbito do país foi registrado em 12 de março, na cidade de São Paulo, também a primeira a notificar um caso de Covid-19 no Brasil, em 26 de fevereiro.

Foram quase dois meses até que número de mortes chegasse a 10 mil, em 9 de maio; com o avanço exponencial da doença, a estatística dobrou em 12 dias, quando foi ultrapassada a marca de 20 mil vítimas fatais. Dez dias depois, em 2 de junho, o Brasil já somava 30 mil óbitos. No dia 11 daquele mês, já eram 40 mil vidas perdidas. Em mais um intervalo de nove dias, as perdas somavam 50 mil.

Em menos de dois meses, o volume já assombroso de mortes notificadas oficialmente dobrou em velocidade ainda mais avassaladora. Pouco a pouco, brasileiros acompanharam pelas manchetes as marcas de 60 mil (1º de julho), 70 mil (10 de julho), 80 mil (19 de julho), 90 mil (29 de julho) e, agora, 100 mil vítimas.

Na última quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro comentou em uma transmissão ao vivo na internet, ao lado do ministro interino Pazuello, a eventualidade das 100 mil mortes.

— Mas vamos tocar a vida, tocar a vida e buscar uma maneira de se safar desse problema — afirmou o presidente.

No início da crise, no entanto, Bolsonaro procurou atenuar a gravidade da Covid-19. Em março, ele chegou a declarar que o número de vitimas fatais do novo coronavírus não superaria o total de mortes pela gripe H1N1 no Brasil em 2019, que foi de 796.

Posteriormente, quando indagado sobre o aumento exponencial no número de contágios e falecimentos em decorrencia do vírus, o presidente recorrentemente desconversou.

Quando o pais ainda somava 5.000 mortes e ultrapassou a China, epicentro inicial da Covid-19, no número de perdas, Bolsonaro respondeu à pergunta de uma repórter sobre o marco:

— E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Sou Messias, mas não faço milagre — comentou, em referência a um de seus sobrenomes.

Em junho, quando o coronavírus já havia subtraído 30 mil vidas no Brasil, o presidente mais uma vez procurou isentar o governo sobre o avanço das mortes:

— A gente lamenta todos os mortos, mas é o destino de todo mundo.

Antes de a doença chegar ao país, contudo, o presidente chegou a afirmar que repatriar brasileiros que estavam quarentenados em Wuhan, onde o novo coronavírus foi notificado pela primeira vez, poderia trazer risco de morte à população brasileira:

— Seria uma irresponsabilidade (repatriar os brasileiros antes da sanção de uma lei de quarentena, posteriormente aprovada pelo Congresso). Se nós temos algumas dezenas de vidas (em Wuhan), aqui nós temos 210 milhões de brasileiros.

Volta às aulas

A reabertura de escolas à medida que a pandemia de Covid-19 desacelera é algo que pode ser feito com sucesso, mas requer a testagem dos casos suspeitos e o rastreamento da maioria dos contatos dos infectados. Essa é a conclusão de um estudo liderado pela University College de Londres, que busca orientar a operação de retomada das aulas no Reino Unido.

Apesar de ter sido ancorado na realidade britânica, o trabalho traçou vários cenários hipotéticos que podem ajudar a orientar os processos de reabertura em outros lugares.

“O relaxamento do distanciamento social no Reino Unido, que inclui a reabertura de escolas, precisa ser acompanhado de testagem de indivíduos sintomáticos e de rastreamento de contatos efetivo em grande escala, seguido de isolamento dos casos infectados”, escreveram os pesquisadores, liderados pela epidemiologista Jasmina Panovska-Griffiths.

Desigualdade

Levantamento inédito feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) aponta que foram abertos até junho no Brasil 19.825 novos leitos de UTI exclusivos para tratamento de Covid-19 – 44% deles (8.764) no Sistema Único de Saúde (SUS), e os demais na rede privada. Junto ao acréscimo de leitos, um alerta: a expansão manteve a desigualdade na distribuição de leitos pelo país, tanto geográfica quanto na relação entre sistemas público e privado.

As regiões que já concentravam o maior número de leitos de UTI foram justamente as que mais receberam novas instalações para receber pacientes com Covid-19, mantendo-se o déficit histórico de unidades de tratamento intensivo em vários estados.

Segundo o levantamento, o Sudeste concentra hoje 24.621 (52%) das unidades de terapia intensiva convencionais de todo o país: detém 46% do total de leitos públicos e 59% dos privados. Já o Norte tem a menor proporção: apenas 2.489 (5%) de todos os leitos, sendo 6% dos leitos públicos e 4% dos privados.

Brasil nos holofotes

Em entrevista ao GLOBO no último domingo, o editor-chefe da revista científica Science, Holden Thorp, afirmou que o fato de o Brasil ter a segunda maior taxa de infecção e mortalidade do mundo, atrelado a elemento sociais e políticos, tornou o país objeto de especial interesse do meio científico.

Thorp, que é químico e foi reitor da Universidade da Carolina do Norte (EUA), traça ainda um paralelo entre a retórica anticiência de lideranças como os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, dos Estados Unidos, e os números alarmantes da Covid-19 em seus países.

Vírus avança no Brasil

O mais recente boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde relatou que 5.475 municípios brasileiros, ou 98,2% de todas as cidades do país, têm pelo menos um caso de Covid-19 confirmado.

O documento revela que 134 municípios registraram seus primeiros casos entre a 29ª semana epidemiológica da doença (12 a 18 de julho) e a 30ª (19 a 25 de julho). Os dados são da última quarta-feira, e serão atualizados na semana que vem.

O coronavírus passa por um processo de interiorização no país. Na 13ª semana epidemiológica da pandemia (de 22 a 28 de março), 87% dos casos novos eram oriundos das capitais e regiões metropolitanas. Ao final da 30ª semana epidemiológica, porém, este índice caiu para 42%.