Chance de golpe é zero, diz Bolsonaro em entrevista

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BRASÍLIA (Reuters) – O presidente Jair Bolsonaro afirmou, em entrevista à revista Veja publicada nesta sexta-feira, que é “zero” o risco de uma iniciativa de golpe de Estado para se manter no poder e garantiu que as eleições aconteceram normalmente, mas reconheceu que parte dos seus apoiadores esperava uma ação dele.

“Daqui pra lá, a chance de um golpe é zero. De lá pra cá, a gente vê que sempre existe essa possibilidade”, disse o presidente à Veja. Em seguida, perguntado, diz que o “de lá para cá” se refere a uma possível ação da oposição contra ele e relaciona pedidos de impeachment a uma tentativa de golpe.

“Existem 100 pedidos de impeachment dentro do Congresso”, disse. “Agora, eu te pergunto: qual é a acusação contra mim? O que eu deixei, em que eu me omiti? O que eu deixei de fazer? Então, não tem cabimento uma questão dessas.”

Bolsonaro admitiu que seus apoiadores esperavam uma ação radical da parte dele, e que foi cobrado por isso.

“Esperavam que eu fosse chutar o pau da barraca. Você imagina o problema que seria chutar o pau da barraca”, disse. “Mas em São Paulo, quando eu falei em negociar, eu senti um bafo na cara. Extrapolei em algumas coisas que falei, mas tudo bem”.

Perguntado sobre o que seria “chutar o pau da barraca”, admitiu que apoiadores o pressionavam por medidas não democráticas.

“Queriam que eu fizesse algo fora das quatro linhas. E nós temos instrumentos dentro das quatro linhas para conduzir o Brasil. Agora todo mundo tem que estar dentro das quatro linhas. O jogo é de futebol, não é de basquetebol. Não vou mais entrar em detalhes porque quanto mais pacificar melhor”, afirmou.

Em discurso a apoiadores durante ato na Avenida Paulista por ocasião do 7 de setembro, Bolsonaro fez ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ameaçou descumprir ordens judiciais, mas dias depois divulgou uma Declaração à Nação, preparada com ajuda do ex-presidente Michel Temer, em que recuou das ameaças — o que foi criticado por bolsonaristas nas redes sociais.

Bolsonaro foi ainda questionado na entrevista sobre sua desconfiança sobre as urnas eletrônicas e, apesar de no início do mês ter repetido as mesmas acusações infundadas de riscos de fraudes em uma entrevista para ativistas de extrema-direita da Alemanha, na conversa com a Veja amainou o tom.

“Olha só: vai ter eleição, não vou melar, fique tranquilo, vai ter eleição”, disse.

Em conversas com apoiadores, há cerca de dois meses –antes do projeto de voto impresso ser derrubado pela Câmara– Bolsonaro chegou a dizer, mais de uma vez, que sem a mudança no sistema eleitoral não haveria eleição.

Dessa vez, o presidente chegou até mesmo a elogiar a iniciativa do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, de criar uma comissão para acompanhar o sistema de votação com as urnas eletrônicas.

“Ele tem uma portaria deles, lá, do TSE, onde tem vários setores da sociedade, onde tem as Forças Armadas, que estão participando do processo a partir de agora. As Forças Armadas têm condições de dar um bom assessoramento. Com as Forças Armadas participando, você não tem por que duvidar do voto eletrônico. As Forças Armadas vão empenhar seu nome, não tem por que duvidar. Eu até elogio o Barroso, no tocante a essa ideia — desde que as instituições participem de todas as fases do processo”, disse ainda.

Bolsonaro disse ainda que pretende ser candidato à reeleição, algo que ele tinha chegado a colocar em dúvida por mais de uma vez. Afirmou também que pretende se filiar a PP, PL ou Republicanos para concorrer, mas que tem ainda um convite do PTB.

Reportagem de Lisandra Paraguassu