Glaucia Benta Portilho, 29 anos, morreu na sexta-feira (25), após ter complicações no parto do seu quinto filho, Keven Gabriel, que nasceu no dia anterior no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul. Com a gravidez de risco constatada no início da gestação, familiares acusam o hospital de negligência e erro médico ao forçarem o parto normal e mandarem ela para casa com fortes dores horas antes de dar à luz.
Na manhã de quarta-feira (23), Glaucia teve uma consulta no hospital, em que foi verificado que o feto não tinha batimentos cardíacos. De acordo com o seu marido Jhonatan da Silva, 24 anos, ela foi alimentada e, logo em seguida, o coração voltou a registrar atividade. O casal ficou na unidade de saúde das 11h às 21h, quando a gestante foi medicada para a dor e liberada a voltar para casa.
Horas depois, na madrugada de quinta-feira (24), Glaucia começou a sentir fortes dores e entrou em trabalho de parto, sendo encaminhada novamente ao Hospital Regional. Assim que chegou ao local, segundo familiares, ela foi forçada a ter parto natural. Keven Gabriel nasceu com 3,2 quilos, na 40ª semana de gestação, enquanto a mãe sofria com forte hemorragia.
Sem conseguir estancar a perda constante de sangue, Glaucia passou por cirurgia, mas acabou falecendo na tarde de sexta-feira (25). Ainda de manhã, os familiares foram informados de que não havia mais esperança de recuperação.
“Se tivessem internado na quarta-feira, ela não estaria morta”, afirma a irmã Deize Portilho, 24 anos. “Viram que o bebê não tinha batimentos, sabiam que ela estava com dores e tinha uma gravidez de risco, mas mesmo assim mandaram ela embora”.
No início da gestação, Glaucia passou por uma avaliação para saber o risco da gravidez. Segundo a classificação, uma gravidez é considera de alto risco quando as respostas ao questionário atingem o patamar com mais de 10 pontos. A mãe de Keven teve como resultado final de 25 pontos.
“Ela tinha pressão alta e diabetes, pediu para passar por uma cesárea, mas obrigaram ter o bebê no parto natural, um absurdo”, reclama Deize Portilho. “A médica plantonista me disse que tiveram que empurrar a barriga para não perder os dois [mãe e bebê]. Onde fica o respeito com a pessoa?”.
“Queremos saber o motivo dela ter morrido e por que não quiseram fazer uma cesariana, sabendo que ela tinha uma gravidez de risco”, questiona Deize.
A família recebe apoio da Associação de Vítimas de Erros Médicos de Mato Grosso do Sul, que vai registrar um boletim de ocorrência e pedir a exumação do corpo de Glaucia para que sejam verificadas as razões da morte.
“Houve negligência. Não poderiam ter liberado ela na quarta-feira, tinham que ter internado, pois era gravidez de alto risco e não poderiam ter feito o parto normal”, diz o presidente da entidade, Valdemar Morais. “Com a experiência de mais de 800 casos, também podemos afirmar que é um caso de violência obstétrica”.
A reportagem entrou em contato com a assessoria do Hospital Regional de MS, que informou que irá se posicionar sobre o caso na tarde desta segunda-feira (28), quando terá todas as informações sobre todos os atendimentos a Glaucia Benta Portilho.
Enquanto isso, o pintor Jhonatan da Silva, pai de Keven e marido de Glaucia, com quem conviveu nos últimos 10 anos, não sabe o que irá fazer com os cinco filhos que agora estão sob sua responsabilidade. “A ficha não caiu ainda”, diz. Keven segue internado, mas não corre risco de morte.