Garras fecha escritório de pistolagem em Campo Grande

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O empresário e pecuarista Jamil Name, o filho dele, Jamil Name Filho, quatro policiais civis, quatro guardas municipais, um policial federal, um militar do exército, um caseiro de propriedade rural e também profissionais do Direito foram presos na manhã de sexta-feira (27), em Campo Grande e no interior do Estado, em operação que combate milícia armada especializada em crimes de pistolagem. Os assassinatos de pelo menos três pessoas estão relacionados com o grupo de extermínio sob investigação: do policial militar reformado Ilson Martins Figueiredo, ocorrido em 11 de junho do ano passado; do ex-segurança Orlando da Silva Fernandes, em 26 de outubro de 2018; e do estudante de Direito Matheus Xavier, em abril deste ano.

Os crimes investigados pelos policiais do Grupo Armado de Repressão a Assaltos e Sequestros (Garras) e do Grupo de Atuação Especial na Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) são de homicídio e corrupção ativa e passiva. Os responsáveis pelo inquérito também falam em uma “milícia armada”.

Na manhã desta sexta-feira, os policiais saíram às ruas para cumprir 13 mandados de prisão preventiva, 10 de prisão temporária e 21 de busca e apreensão e encerraram o dia com 19 pessoas atrás das grades.

Além do mandado de prisão preventiva, Jamil Name também foi flagrado com munições de pistola 9 milímetros em sua residência. Houve autuação em flagrante e fiança foi arbitrada pela Polícia Civil. Também foi apreendida uma espingarda calibre 12 no haras dele.

Entre os presos na operação também estão os policiais civis Vladenilson Daniel Olmedo e Márcio Cavalcanti da Silva. Eles e Jamil Name pai e filho são defendidos pelo advogado Renê Siufi. “Sobre os meus clientes, ainda iremos verificar a melhor estratégia de defesa a ser adotada”, disse o advogado. Há ainda outros dois policiais civis entre os presos: Elvis Elir Camargo Lima e Frederico Maldonado Arruda.

O policial federal Everaldo Monteiro de Assis foi preso pelos seus colegas de instituição, que ajudaram as equipes do Garras e do Gaeco na investigação. Everaldo, conforme denunciou o Correio do Estado anteriormente, teria ajudado o guarda municipal Marcelo Rios a levantar informações sobre um pecuarista de Bonito. Os policiais acreditam que o produtor rural seria o próximo alvo do grupo de extermínio.

ARSENAL

Marcelo Rios foi o primeiro grupo do integrante a ser preso pela força-tarefa composta por Garras e Gaeco. Ele foi flagrado com um baú que continha dezenas de armamentos, como seis fuzis (dois deles do modelo AK-47), mais de uma dezena de pistolas, espingardas e revólveres, de diversos calibres. Também foram encontradas milhares de munições, lunetas de visão noturna, um Fiat Uno furtado de uma locadora (encoberto com uma lona preta e placa adulterada) e ainda arreadores, instrumento elétrico utilizado no abate de bovinos, e que com humanos é utilizado para tortura.

Rios, que foi demitido da Guarda Municipal no mês passado pelo prefeito Marcos Trad, está no Presídio Federal de Campo Grande, e deve ser levado à unidade prisional semelhante em Mossoró (RN).

OUTROS PRESOS

Outros quatro guardas municipais foram presos ontem. Se somados à Marcelo Rios, Robert Vitor Kopetski e Rafael Antunes Vieira, o número de integrantes da força de segurança pública do município chega a oito (existe um outro guarda sob investigação). Os detidos da guarda de ontem foram identificados, até o encerramento da edição, por seus nomes de trabalho: Peixoto, Ígor, Arantes e Eronaldo.

Ainda houve a prisão de pessoas classificadas como “ajudantes” dos empresários Jamil Name e Jamil Name Filho, e também do militar da reserva do Exército Brasileiro, Anderson Correia.

DINHEIRO VIVO 

O Ministério Público de Mato Grosso do Sul informou que, durante o cumprimento dos mandados foram apreendidos R$ 160 mil em dinheiro vivo, além de telefones celulares (inclusive os que são conhecidos como ‘bombinhas’) além de folhas de cheque em nome de terceiros.

Para dar o nome à operação, os policiais utilizaram um termo do dialeto napolitano, do idioma italiano. Omertá, conforme o Gaeco, é um termo que se fundamenta em um forte sentido de família e em um silêncio que impede a cooperação com autoridades policiais ou judiciárias. Trata-se de um código de honra muito usado nas máfias do Sul da Itália.

Uma das execuções teria custado R$ 120 mil 

Grupo de extermínio investigado por força-tarefa da Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros (Garras) , juntamente com o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), teria sido contratado para executar o capitão reformado da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul,  Paulo Roberto Teixeira Xavier. Pela execução, o grupo receberia R$ 120 mil, no entanto, o serviço acabou mal executado e resultou na morte do filho do PM, o estudante de direito Matheus Xavier, 20 anos, em 9 de abril deste ano.

A execução, uma das que o Gaeco credita ao grupo investigado por crimes de pistolagem preso nesta sexta-feira, teria sido encomendada em decorrência de desavenças antigas entre o policial e os chefões do grupo. O valor seria recebido pelos pistoleiros após a conclusão do serviço, mas os criminosos acabaram atirarando no alvo errado, conforme informou o Correio do Estado em reportagem publicada .

Matheus deixava a garagem da casa onde morava, em uma caminhonete S10, que pertencia ao pai dele, quando dois homens se aproximaram em um veículo e já desceram atirando. A vítima foi atingida ao menos setevezes por um fuzil calibre ponto 762, de acordo com o apontado pela perícia. Os bandidos fugiram após os disparos.

A versão plausível para a polícia é a de que Matheus retirava o carro para que o pai pudesse sair com seu Ford Ka, o mesmo que usou para socorrer a vítima à Santa Casa.

O advogado de defesa dos empresários Jamil Name e Jamil Name Filho e dos policiais civis Vladenilson Daniel Olmedo e Márcio Cavalcanti da Silva, Renê Siufi, classificou como piada a prisão de seus clientes sobre a acusação de criação de grupo de extermínio, milícia armada. “Eu acho uma piada, isso é coisa do Gaeco, igual a Coffee Break. No meu ver não tem nenhum fundamento”.

O advogado informou ontem, no início da noite, que ainda avaliava a estratégia para pedir a libertação de seus clientes.  Ele lembrou, contudo, que Jamil Name, aos 80 anos de idade, tem problemas de saúde.