PF descobre beneficiário do Bolsa-Família vendendo fazenda de R$ 400 mil

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João Roberto Baird e Antônio Celso Cortez, fazendeiros e donos de empresas de informática em Mato Grosso do Sul, capturados nesta semana no âmbito da ”Computadores de Lama”, usavam até nomes de favorecidos no programa federal criado para socorrer famílias carentes, como o Bolsa-Família, para legitimar negócios sujos.

Eles foram alvos na 6ª fase da Lama Asfáltica, operação da Polícia Federal que investiga esquema de corrupção cometido na gestão do então governador André Puccinelli (MDB), entre os anos de 2007 e 2014.

Consta no relatório da PF que, em 2013, um certo Walter Pereira Oliveira vendeu uma fazenda para Vilmar Pereira Alves, na região do município de Costa Rica. Valor do negócio pago em parcelas: 400 mil.

Ocorre que, segundo a PF, que sustentou a investigação em pareceres da Receita Federal e CGU (Controladoria Geral da União), que Walter, o vendedor da fazenda, ”tem seu nome constando no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (Cadúnico) com renda mensal declarada de R$ 788,00”.

Antônio Cortez, dono de empresa de informática, prestadora de serviço ao governo estadual, teria pago a fazenda, tanto que os investigadores notaram um depósito de R$ 100 mil na conta bancária de Walter, o que ganha bolsa família e o salário não alcançava nem sequer R$ 800. Contudo, ele seria dono de área rural de R$ 400 mil.

“Ou seja, embora os depósitos tenham sido efetivados em datas diferentes (mas no mesmo ano) da transação imobiliária, os pagamentos realizados por Antônio Cortez para atender a interesses de João Baird são procedimentos, a que tudo indica, rotineiros”.

As suspeitas que recaem sobre João Baird e Antônio Cortez, por exemplo, estampa-se ainda mais a partir de negócios mantidos com Romilton Rodrigues de Oliveira, capataz de fazenda que recebia em torno de R$ 1,3 mil por trabalhar numa fazenda de Baird, em Costa Rica.

Com este salário, Oliveira comprou três imóveis rurais, conforme relatório da PF, por estes valores: R$ 473.860,23, R$ 208.716,48 e R$ 393.082,70.

“Embora não haja origens capazes de suportar às aplicações, isto é, os recursos gerados por Romilton, em tese, não permitiriam a compra dos três imóveis, de acordo com a declaração do imposto de renda”, cita o relatório da PF.

De fato, segundo a investigação, os imóveis comprados por Romilton, com salário mensal de R$ 1,3 mil e Walter, o que ganhava Bolsa-Família, eram todos de Baird, que contava com a participação de Celso Cortez, em tais transações financeiras fraudulentas.

Além de Cortez e Baird, também estão presos Romilton e André Cance, ex-secretário de Fazenda, outro metido no esquema, segundo a PF.

Propina

O empresário Antônio Celso Cortez, um dos donos da PSG Tecnologia Ltda., empresa de informática que, há anos, fatura milhões de reais em contratos com o governo de Mato Grosso do Sul, seria um dos coletores de propinas do ex-governador André Puccinelli, preso desde o dia 20 de julho. É o que diz a Polícia Federal.

Somente em 2015, já sob o governo de Reinaldo Azambuja (PSDB) – gestão Puccinelli expirou em dezembro de 2014 – Cortez pegou em dinheiro em torno de R$ 14 milhões da empresa JBS, tida pelo mercado internacional como a maior do mundo em produtos de origem animal. O dinheiro coletado deveria ser entregue ao então ex-governador.