Proposta de Bolsonaro, educação em casa é ‘absurda’ para especialistas

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A ampliação da educação à distância está pautada no plano de governo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), que em entrevistas chegou a sugerir a medida até mesmo a crianças e adolescentes, nos níveis escolares básico e médio. O motivo seria diminuir os custos da máquina pública, além de ‘combater o marxismo’, nas palavras do eleito.

Para especialista consultada pelo TopMídiaNews, a doutora em educação pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, Ângela Costa, a possibilidade deveria ser repensada e descartada. “Quero acreditar que o Ministério da Educação vai ser composto de pessoas competentes, que vejam como uma medida como essa é absurda. Há muitas coisas a serem modernizadas, discutidas, mas esta não seria uma solução para nada”, avalia.

Conforme a doutora em educação, é primordial que a criança tenha acesso aos aspectos insubstituíveis proporcionados pelo convívio escolar. Entre eles, sociais, emocionais e cognitivos, que seriam completamente limitados em um ensino não presencial.

“O objetivo da escola é fazer com que a criança aprenda, se socialize, trabalhe em grupo, enxergue e faça uma leitura de mundo. Desenvolver a linguagem, ter contato com a arte, também é muito importante”, classifica. A desvalorização de profissionais de educação, falta de estrutura familiar e falta de merenda na rotina de milhões de crianças também pesam sob a questão.

Para especialistas, educação à distância deve ser descartada

Em seu projeto de governo registrado para seguir campanha ao cargo, Bolsonaro defende que a educação à distância deveria ser vista como um importante instrumento e não vetada de forma dogmática. Mas cita apenas considerar a alternativa para as áreas rurais, onde grandes distâncias dificultam ou impedem aulas presenciais.

Neste quesito, a especialista tem posição mais flexível. “Lá no meio do sertão onde há dificuldades de transporte, é outra coisa, a estudantes de ensino médio, de graduação universitária. Mas sou totalmente contra quando se trata de um centro urbano”, comenta.

Creches e modernização

O cumprimento da Constituição Federal com o direito de todas as crianças à creches, na avaliação de Ângela Costa, deveria ser a prioridade do país no quesito educacional e social. “É primordial que haja vagas para todos, o que já é obrigatório, mas os governos não cumprem. Temos que começar daí, garantindo os direitos do cidadão, capacitando profissionais da educação, agir mais objetivamente”, diz.

A modernização deve ser discutida para solucionar esses e outros percalços, como impedir a evasão no ensino médio e garantir o ensino profissionalizante. “Tem que começar desde a primeira infância, se você perde essa fase é mais difícil consertar lá na frente. O jovem também precisa fortalecer seu currículo, sair capacitado para a sua vida, a educação hoje está atrasada em vários pontos. Não adianta queimar etapas”, finaliza.