Venezuelanos vasculham lixão em busca de comida e coisas para revender na fronteira do Brasil

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Em uma tentativa de sobreviver após fugir da crise na Venezuela, três homens venezuelanos encontraram no lixão da cidade fronteiriça de Pacaraima, em Roraima, a única fonte de subsistência.

Enfiados entre os dejetos da cidade, os imigrantes ficam da manhã à tarde em busca daquilo que possam aproveitar. Recolhem metais, papelões e comida. Eles dizem que não conseguem outro trabalho porque a cidade está cheia de venezuelanos carentes, enquanto outros cometem crimes e “por um todos pagam”

Correria em aterro de Pacaraima

O venezuelano em Pacaraima Miguel Arteaga conta que duas vezes ao dia, normalmente de manhã e à tarde, um caminhão leva mais lixo para o aterro. Nesses momentos costuma haver correria.

“Aparecem muitos venezuelanos jovens, com 19, 20 anos. Correm quando o caminhão chega”, relata um dos companheiros de Arteaga, Gustavo Santana, 48. “O governo da Venezuela não serve. Nos fez chegar a este ponto”.

Criança venezuelanas reviram dejetos em Pacaraima a procura de algo para sobreviverem — Foto: Emily Costa/G1 RRCriança venezuelanas reviram dejetos em Pacaraima a procura de algo para sobreviverem — Foto: Emily Costa/G1 RR

Criança venezuelanas reviram dejetos em Pacaraima a procura de algo para sobreviverem — Foto: Emily Costa/G1 RR

Segundo a ONU, 3,4 milhões de venezuelanos saíram do país desde 2014 quando se agravou a grave crise política e econômica no país. Cerca de 96 mil buscaram refúgio no Brasil, mas no estado fronteiriço de Roraima, que concentra maior quantidade, só 9% conseguem inserção no mercado formal, conforme levantamento da Organização Internacional para Migrações (OIM).

Com as pernas metidas no lixo, o terceiro venezuelano entrevistado pelo G1revirava entre restos. Ele encontrou um curto pedaço de arame e o guardou. Mais jovem entre os três, é o que tem mais experiência ali. Está há três meses vivendo do lixo.

“Havia uma grávida, mas ela já pariu e se foi daqui”, conta Fresby Artiaga, de 19 anos. “Pagam 10 centavos pelo quilo de papelão, e o de lata custa R$ 3. Dividindo tudo o que conseguimos, são entre R$ 15 e R$ 20 ao dia para cada um. Só dá para comer”.

Um homem e quatro garotos também caminham entre os montes de lixo. Um dos meninos carrega um saco nas costas. São índios warao, etnia que vive em território venezuelano e também migra em massa ao Brasil.

“De repente consigo um dinheiro para passagens e me vou daqui”, completou Gustavo, que não esconde a vontade de sair dali. “Quero ir mais ao Sul do Brasil, encontrar um trabalho. Recomeçar”.

Crise na Venezuela faz com que imigrantes recorram ao lixo em Pacaraima para sobreviver — Foto: Emily Costa/G1 RRCrise na Venezuela faz com que imigrantes recorram ao lixo em Pacaraima para sobreviver — Foto: Emily Costa/G1 RR