Filho único, Jô Soares perdeu mãe atropelada e único herdeiro: relembre trajetória familiar do artista, morto aos 84 anos

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Mesmo sem entoar em alto e bom som o famoso bordão “beijo do Gordo”, Jô Soares saiu de cena na madrugada da última sexta, 5 de agosto, aos 84 anos. O ator, apresentador, escritor e diretor estava internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, desde 28 de julho para tratar uma pneumonia. Nascido José Eugênio Soares, em 1938, o artista colecionou talentos. Interpretou personagens memoráveis, escreveu livros e realizou cerca de 15 mil entrevistas, além de ter dado inúmeras declarações marcantes. Na vida privada, no entanto, sempre foi discreto, mas nem por isso deixou de viver seus amores nem de dividir a dor da perda do único filho.

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Nascido em 1963, Rafael morreu em 31 de outubro de 2014, aos 50 anos, devido a complicações de um câncer no cérebro. Na época, Jô fez uma linda homenagem ao herdeiro no “Programa do Jô” e falou sobre o que seria “o maior pesadelo de um pai” (leia mais abaixo). Rafael era fruto do casamento de Jô com a atriz Therezinha Millet Austregésilo (que morreu em 2021), sua primeira esposa, com quem ficou de 1953 a 1979.

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Ao longo da vida, o humorista foi casado outras duas vezes e cultivou um bom relacionamento com todas as suas ex: a também atriz Sylvia Bandeira, com quem foi casado de 1980 a 1983, e a designer Flavia Pedras Soares, com quem ficou por mais de dez anos. Os dois se separaram em 1998, mas Jô chegou a dizer em entrevistas que foi uma “separação que não deu certo”, pois os dois estavam sempre juntos mesmo após o fim da relação.

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Foi Flavia quem deu a notícia da morte do artista em sua rede social. “Você é orgulho pra todo mundo. Obrigada pelas risadas de dar asma, por nossas casas do meu jeito, pelas viagens aos lugares mais chiques e mais mequetrefes, pela quantidade de filmes e pela quantidade indecente de sorvete que a gente tomou assistindo. Obrigada para sempre, pelas alegrias e também pelos sofrimentos que nos causamos. Até esses nos fizeram mais e melhores. Amor eterno”, escreveu ela. Sylvia também lamentou a morte do ex-marido ao compartilhar uma foto antiga com dele: “Muito triste”, escreveu.

Namoro com Claudia Raia

O namoro de Jô com Claudia Raia por dois anos, na década de 80, marcou a trajetória dos artistas. Até hoje a atriz fala com carinho dele, com quem chegou a atuar no quadro “Vamos malhar?”, do programa “Viva o Gordo”. A diferença de idade atrapalhou a relação, que foi terminada por Jô. Na internet, Claudia postou uma homenagem: “Sabe aquelas pessoas que a gente acha que estarão sempre aqui, que são eternas? Jô era uma dessas pessoas para mim. Meu pai, meu amor, meu amigo, meu conselheiro… Conhecer o Jô foi um divisor de águas na minha vida”. No mesmo post, a atriz ainda contou: “Ele salvou a minha vida, quando me pegou pela mão e me levou ao médico depois de ver uma pinta na minha perna. Lá descobri que era um melanoma. Ele salvou mesmo a minha vida! Me acalma saber que sempre o celebrei em vida”.

Jô teve outras namoradas famosas. Vera Zimmermann, com quem ele teve um breve relacionamento em 2006, postou: “Obrigada por tudo, seu talento, sua inteligência, sua generosidade e seu legado, ficará pra sempre em nossa memória”. A também atriz e diretora Mika Lins, com quem ele namorou nos anos 80, escreveu: “Jô, querido, obrigada pelo riso, pela genialidade, pela coragem , pela arte e por tudo que pessoalmente fez por mim”.

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Entusiasta da vacina contra a Covid

A última aparição pública do apresentador, em que foi fotografado, foi em fevereiro 2021, quando esteve no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, perto de onde morava, para se vacinar contra a Covid-19. Na época, chegou a dizer após a primeira dose: “Alívio. Um grande alívio. Vacinem-se, pelo amor de Deus”.

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Jô Soares era filho único do empresário paraibano Orlando Heitor Soares e da dona de casa Mercedes Leal Soares, que morreu nos anos 60 atropelada por um táxi. Uma década após perdê-la, Jô encontrou o taxista: “Mamãe morreu atropelada, num dia de chuva terrível. O motorista do táxi não teve a menor culpa. Ela tinha 70 anos. Ele socorreu minha mãe e levou para o hospital, fez tudo certo. Só que ela teve uma fratura de base de crânio”, lembrou ele numa entrevista: “Dez anos depois, eu peguei um táxi no Santos Dumont e, quando cheguei em casa, o motorista falou: ‘Eu preciso dizer uma coisa para o senhor. Fui eu que atropelei sua mãe. E desde esse dia eu não consigo mais dormir. Só vou conseguir dormir no dia que o senhor me disser que me perdoa’. Eu falei: ‘Mas, meu filho, você está perdoado desde o dia que pegou a minha mãe, socorreu e ficou ao lado do meu pai até a minha mãe morrer. Você não teve culpa nenhuma’”. Jô finalizou essa entrevista dizendo que o perdão era a coisa mais importante dos ensinamentos de Jesus Cristo. Ele contou que disse ao taxista: “‘Eu te perdoo, você está mais que perdoado. Vai em paz.’. Ele chorava e eu chorei muito também”.

‘A vida continua’: relembre depoimento emocionante do artista

“A vida continua”. A frase dita por Jô Soares ganhou ontem as redes sociais após a sua morte. O trecho, especificamente, pode até parecer clichê, mas o contexto de que foi tirado emociona mesmo após tantos anos. No dia 3 de novembro de 2014, o apresentador encerrou seu “Programa do Jô”, na Globo, com uma homenagem a Rafael Soares, seu único filho, que morreu no último dia de outubro daquele ano, aos 50.

“Eu queria contar uma história, de uma das coisas que aprendi com o Rafinha. Uma vez, em uma livraria, ele chegou junto ao caixa carregando uma dúzia de livros. Eu estranhei, falei: ‘Espere aí, isso é muito. Doze, não. Escolha seis’. Ele disse: ‘Então, não quero nenhum’. Pensei que era malcriação: ‘Como assim não quer nenhum?’. ‘Eu prefiro não escolher. Porque escolher é perder sempre’, ele respondeu. Claro, você escolhe um e o que você não escolheu… Hoje, eu também não preciso escolher. Como ele nunca faltou ao seu trabalho, também não posso faltar ao meu. Um beijo do Gordo, e a vida continua. A vida é o que a gente veio fazer aqui”, disse Jô, com a voz embargada pela emoção.

Naquele mesmo programa, Jô contou: “A nossa abertura hoje vai ser um pouco diferente, porque na última sexta-feira, dia 31, eu sofri o pesadelo de todo pai, a inversão da ordem natural das coisas, a perda de um filho. Meu filho Rafael esteve no mundo durante 50 anos e foi uma criança especial. Como era autista, permaneceu menino até o fim. Passou a vida inteira na realidade do próprio mundo. Corpo de adulto, coração e alma de criança. Tocava piano, adorava música, mas seu grande amor era o rádio. E essa disposição de viver com entusiasmo e até com paixão, esse caminho limitado que a vida lhe ofereceu, me dá muito orgulho do meu filho. Eu gostaria de dedicar essa abertura de hoje a ele e a Theresa, sua mãe, que foi minha companheira por 20 anos e que, por 50 anos, dedicou a sua vida ao nosso filhinho, o acompanhando desde o berço até o fim”.