No RS, douradenses relatam euforia por neve e preocupação social com o frio

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Douradenses que atualmente residem no Rio Grande do Sul foram surpreendidos por nevada nessa quarta-feira (28). A onda de ar congelante passou por diversas cidades no Sul do país fazendo populares saírem de casa e enfrentar o frio intenso para acompanhar o raro fenômeno climático.

Alesandro Ferreira, 42, que atua como policial militar em Antônio Prado (RS) relatou ao Dourados News nesta quinta-feira (29) a experiência em poder conhecer neve de perto.

“Na entrada da noite choveu normal, mas por volta das 21h [horário de RS] a gente reparou um barulho parecido com chuva. O barulho é diferente, uns pingos um pouco mais fortes. Quando fomos na janela para ver o que estava acontecendo percebemos que era neve”, contou empolgado.

A formação de pingos de neve é um fenômeno natural considerado raro, até mesmo no extremo Sul do Brasil, em decorrência da necessidade de combinações de uma série de fatores climáticos simultâneos como alta taxa de umidade relativa do ar aliada a formação e movimento das nuvens.

Alesandro estava em casa com a esposa Cassiane Belle, 44, quando viu a neve pela primeira vez, momento de grande euforia não só para ele que saiu de Dourados para morar no Rio Grande do Sul em 2019.

“Estava muito frio, bem abaixo de zero grau, mas todo mundo estava abrindo as janelas para encostar a mão na neve, inclusive o pessoal que é natural daqui”, comentou o policial militar.

Vulnerabilidade social

Apesar do aspecto de curiosidade na qual é geralmente tratada as ocorrências de precipitações de neves, o frio intenso que chega se estender por semanas resulta também em um problema crônico para milhares de moradores em situação de vulnerabilidade social.

Pensando por este viés, o professor universitário Jorge Eremites de Oliveira, 53, criticou o que chamou de “romantismo” propagado nesse sentido, que acaba mascarando as dificuldades geradas pelas baixas temperaturas no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Para o professor que trabalhou por anos na UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) e hoje leciona na Universidade Federal de Pelotas, esta romantização faz parte dos discursos que buscam construir uma imagem distorcida do Rio Grande do Sul fazendo alusão a uma “pequena Europa” no Brasil.

“Inverno aqui não é um problema para nós [família], pois moramos em uma casa com aquecedor. Parece romântico quando vemos na televisão, mas é um problema sério. Pois temos uma população em situação de rua que é muito grande”, explicou, afirmando que onde reside não houve neve, mas a popularmente conhecida ‘chuva congelante’.

Além dos moradores de rua, esses fenômenos também causam grandes prejuízos a produtores rurais e aumenta risco de animais morrerem por hipotermia.

Jorge Eremites contou ainda ao Dourados News que recentemente ajudou um douradense a retornar ao Mato Grosso do Sul após passar período de extrema precariedade no Sul do país.

Por fim, o professor que é natural de Corumbá e está há nove anos em Pelotas (RS), relembrou com carinho os anos em que morou em Dourados.

“Estamos bem, mas com muita saudade. Não só apenas as temperaturas que são baixas por aqui, mas as relações entre as pessoas também são, se comparadas com o calor humano de Dourados e todo Mato Grosso do Sul”, finalizou.

Assista ao vídeo registrado pelo policial sul-mato-grossense, Alesandro, nessa quarta-feira (28) em cidade do Rio Grande do Sul: