Palestra orienta produtores sobre riscos da raiva bovina em Amambai

0

Uma palestra realizada na manhã dessa terça-feira, 23 de abril, ministrada pelo médico veterinário da Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal) e coordenador do programa estadual de controle da raiva em Mato Grosso do Sul, Fábio Shiroma de Araújo, prestou esclarecimentos e orientou produtores rurais de Amambai sobre a raiva bovina.

O médico veterinário e coordenador do programa estadual de controle da raiva em Mato Grosso do Sul, Fábio Shiroma de Araújo. Participação e colaboração do produtor rural é fundamental para o controle da doença.

A doença, que é transmitida através da saliva do Desmodus rotundus (espécie de morcego hematófago) está presente, pelo menos com casos registrados, na região Cone Sul do Estado desde 2013, quando surgiu um foco em Mundo Novo e de lá para cá já foi detectada em mais sete municípios da região.

Segundo a Iagro dezenas de animais já morreram na região vítimas de raiva, provocando elevados prejuízos aos produtores rurais.

Em 2014 cinco focos de raiva em pontos distintos mataram 102 cabeças de gado no município de Sete Quedas. Casos da doença também foram registrados em Caarapó.

Em 2017 outros focos foram registrados na região da cabeceira e afluentes do Rio Amambai, abrangendo e causando mortes de animais nos municípios de Amambai, Coronel Sapucaia e Aral Moreira.

Os focos mais recentes foram registrados entre o mês passado (março) e este mês de abril em propriedades rurais às margens dos rios, Iguatemi e Jogui, nos municípios de Amambai, Paranhos e Tacuru, resultando na morte de pelo menos quinze cabeças de gado, segundo a Iagro, em virtude da doença.

Exemplar de morcego hematófago capturado me fazenda de Amambai essa semana. Das 172 espécies de morcegos existentes em MS apenas duas são hematófagas e só uma transmite a raiva, desde que esteja contaminado com o vírus da doença, diz Iagro.

No final de janeiro desse ano nessa mesma região depois de arranhar e morder a dona, uma sitiante já de idade avançada, um gato foi detectado, após exame laboratorial, que estava infectado com o vírus da raiva.

O animal, que suspeita-se ter contraído a doença ao comer um morcego infectado, morreu e a sitiante foi medicada e passa bem, segundo as autoridades sanitárias.

A palestra

Na palestra dessa terça-feira (23) que também contou com a presença do diretor regional da Iagro, em Amambai, o médico veterinário Israel de Almeida Lobo Neto e da diretora do escritório local da Iagro, em Amambai, a médica veterinária Wara Yasmin Maluf Chambi Gavilan, além de produtores rurais e profissionais que atuam na área da saúde animal, Fábio Shiroma fez uma explanação geral sobre a doença no Estado e na região e passou informações e orientações em relação à raiva bovina.

Fábio destacou que em Mato Grosso do Sul existem 172 espécie de morcegos catalogadas, mas só duas espécies são hematófagas e apenas uma delas transmite o vírus da raiva, deste que esteja contaminada com o vírus.

Segundo o médico veterinário a raiva é transmitida pela saliva, ou seja, o vírus é inserido no animal, seja ele bovino, equino, caprino, suíno e até caninos, além de outras variedades, inclusive de animais silvestres, quando o morcego infectado suga o sangue da vítima.

Uma vez inserido, o vírus atinge o sistema nervoso do animal e após um período de incubação, que pode levar entre 45 e 60 dias, começam aparecer os sintomas da doença.

Segundo os veterinários, em bovinos, cavalos e caprinos, por exemplo, os animais infectados com o vírus da raiva param de comer, perdem coordenação motora e apresentam salivação (baba).

Já cães e gatos, segundo a veterinária Wara Yasmin, além dos sintomas acima, o efeito da raiva no sistema nervoso também deixa o animal agressivo, inclusive não reconhecendo e podendo atacar o donos e demais animais de sua convivência.

De acordo com os especialistas, a partir do surgimento dos sintomas a raiva é letal, ou seja, não tem mais como ser curada tanto em animais como em seres humanos e levam o ser infectado à morte em um período que varia de 3 a 7 dias.

Orientação a produtores e a população em geral

De acordo com os técnicos da Iagro o morcego hematófago que tem hábito noturno usa como abrigos taperas (casas abandonadas), cavernas, ocos em árvores e até pontos escuros sob pontes e dentro de tubulações, por exemplo, porém nunca se abrigam em localidades com barulho em excesso ou luzes, motivos pelos quais raramente são encontrados em perímetro urbano ou locais de intensa movimentação de pessoas.

Segundo a Iagro algumas características diferenciam o morcego hematófago das demais espécies. Entre elas está a cor avermelhada, o nariz achatado e a forma que se portam nos abrigos, que é ficarem grudados com as quatro patas na parede e não pendurado como as demais espécies.

Outras características que ajuda o produtor a identificar a existência de morcego hematófago em sua propriedade ou região é se deparar com animais, no caso de equinos, com a crina trançada (ação que no folclore popular é aderida a Saci) e sangramentos na cabeça, pescoço e nas patas, por exemplo, locais mais comuns atacados pelos morcegos.

A médica veterinária Wara Yasmin Gavilan. Pessoas que tiveram contato com a saliva de morcegos ou animais com suspeita de raiva devem lavar o local com água e sabão e logo em seguida procurar uma unidade básica de saúde. A partir do surgimento dos sintomas a raiva é fatal, tanto para animais como para seres humanos.

Dr. Fábio Shiroma também ressaltou que diferente do que se acredita, o morcego hematófago não morde e suga o sangue da presa como vampiro e sim faz um corte em forma de meia-lua, fator que possibilita até dois ou mais morcegos a sugarem o sangue da presa ao mesmo tempo.

Como a saliva do morcego hematófago não apresenta substância coagulante, ao deixar o animal, o sangue continua escorrendo, fator que facilita ao produtor identificar o animal atacado. Geralmente, segundo o veterinário, o morcego escolhe para atacar animais mais jovens, tendo em vista a menor densidade da pele.

Segundo Fábio Shiroma, quando se deparar com animais nessas condições, ou seja, apresentando sangramentos ou equino com crina transada, a Iagro deve ser informada, pois caracteriza a presença de morcegos hematófagos na região.

Segundo o médico veterinário para o eficaz controle da doença e proliferação do morcego transmissor da raiva e consequentemente conter a doença é fundamental a participação direta do produtor rural, informando a Iagro a existência de locais com presença de morcegos ou que possam servir de abrigos para o mamífero em sua propriedade ou propriedade vizinha.

A orientação é não tentar capturar ou exterminar por conta própria morcegos e colônias e também não destruir os abrigos onde morcegos se aglomeram, pois dessa forma o produtor vai ajudar a Iagro a cadastrar e monitorar os abrigos para um maior e mais eficaz controle da espécie.

De acordo com Fábio Shiroma não a nenhuma sanção, como ocorre com a aftosa, por exemplo, ao produtor ou a propriedade rural quando encontrado abrigo ou colônia de morcegos na fazenda.

Segundo a Iagro atualmente a Agência mantém sob monitoramento 2.282 abrigos de morcego hematófago em todo o Estado.

Porque o morcego trança a crina?

Fábio Shiroma ressalta que o morcego trança a crina do equino ao fazer a movimentação das patas à procura do melhor local para fazer a incisão para sugar o sangue do cavalo, por exemplo, já que essa espécie de morcego tem a sensibilidade de localizar a corrente sanguínea da presa embaixo da pele, visando escolher o melhor ponto para atacar.

Como agir caso a pessoa seja atacada?

Segundo a médica veterinária Wara Yasmin Gavilan, caso a pessoa seja atacada ou tenha contato com a saliva de animal com suspeita de raiva a primeira medida é lavar bem o local da mordida ou onde houve o contato com a saliva com água e sabão, logo em seguida procurar uma unidade de saúde para tomar a vacina contra a raiva, além de informar as autoridades sanitárias, no caso a Iagro, sobre o ocorrido.

Segundo a veterinária a vacina contra a raiva não é oferecida regularmente à população em campanhas como a vacinação de cães e gatos, por exemplo.

As unidades básicas de saúde contam com a vacina em seus estoques, mas quem toma regularmente são somente profissionais que atuam no controle de zoonose ou que apresentem suspeita de ter mantido contato com animais infestados, por exemplo.

Fonte: A Gazetanews