Argentina JA TEM NOVO PRESIDENTE DA DIREITA

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Saiba quem é Javier Milei, presidente eleito da Argentina

Candidato de extrema-direita é um personagem repleto de peculiaridades e promete mudanças radicais na economia e na administração pública argentina

Javier Milei, 52, venceu as eleições presidenciais argentinas, neste domingo (19.nov), após uma intensa disputa com o adversário Sergio Massa. O candidato da extrema-direita é alinhado a nomes como Jair Bolsonaro, aqui no Brasil, e Donald Trump, nos Estados Unidos. Após ficar em 2º no 1º turno, Milei recebeu apoios de nomes como o ex-presidente argentino Mauricio Macri e da terceira colocada nas eleições, Patricia Bullrich.

Javier Milei é filho de um motorista de ônibus que se tornou empresário no ramo dos transportes com uma dona de casa. Ele cresceu em um lar violento, em Buenos Aires, e costuma dizer que para ele “os pais estão mortos”. Devido ao contexto de agressividade doméstica, cresceu como um jovem solitário.

Estudou no Colégio Cardenal Copello, em Villa Devoto. A passagem dele por lá foi marcada por bullying. Na biografia não autorizada, o jornalista Juan Luis González afirma que Milei era “um menino retraído e calado que gostava de dançar ao melhor estilo Mick Jagger” – do Rolling Stones. No ensino superior, formou-se em em economia pela Universidade de Belgrano – onde o adversário Sergio Massa estudou direito.

Autodeclarado “anarcocapitalista”, ele é o líder da coalizão “Liberdade Avança (Libertad Avanza)”, que defende ideias ultraconservadoras no social e possui postura ultraliberal na economia. Aos dezoito anos, tentou ser goleiro das categorias de base do time Chacarita Junior. “Não sou torcedor do Chacarita, mas passei a fazer parte do time profissional em 1989”, declarou à rádio Urbana Play FM de Buenos Aires.

Milei vive com cinco cachorros da raça Mastiff inglês, cada um pesando cerca de 100 quilos, a quem ele reconhece como sua verdadeira família. Caso seja eleito, vai tentar colocar a irmã caçula, Kamila Milei, no papel de primeira-dama, já que é solteiro.

Além da formação em economia, Milei tem dois mestrados no Instituto de Desarrollo Económico e Social (IDES) e na Universidade Torcuato di Tella. Foi economista-chefe da Máxima AFJP (empresa de previdência privada), economista-chefe do Estúdio Broda (empresa de assessoria financeira) e consultor governamental do Centro Internacional para a Arbitragem de Disputas Sobre Investimentos. Ele também era economista sênior do HSBC.

Sua primeira ligação mais próxima com a política foi entre 1995 e 1999, quando atuou como assessor do general Antonio Bussi, governador de Tucumán, acusado de crimes “contra a humanidade”. Bussi também foi eleito deputado em 1999 e governou a província entre 1976 e 1977, durante o período da ditadura militar da Argentina.

No entanto, o novo presidente argentino passou a ganhar popularidade a partir de 2015. Na época, ele era economista-chefe da Corporação América, que controlava diversas empresas. Naquele ano, Milei começou a fazer aparições em TVs locais com diversas críticas aos governos de Cristina Kirchner, Maurício Macri e Alberto Fernández, citando gastos desenfreados como um erro dos presidentes. Então, passou a defender ideias como “dinamitar o Banco Central” para dolarizar a economia argentina.

Com ideias radicais somadas expostas em comentários agressivos, somados ao seu visual excêntrico e perfil enérgico, Milei foi ganhando visibilidade e popularidade. Passou a mirar voos altos na política e em 2021 se candidatou a deputado nacional da Câmara dos Deputados, pelo Libertad Avanza, mas já mirava conseguir mais popularidade para se lançar à presidência.

No campo político-ideológico, o presidente eleito de extrema-direita defende posições contrárias ao aborto, mesmo em casos que a mulher tenha sido vítima de abuso sexual. Se eleito, deve acabar com o ministério da Mulher. Ele também costuma negar a existência do aquecimento global e credita, segundo ele, “a teoria à uma invenção cultural”. Ele também é contrário ao movimento LGBTQIA+.

Suas principais propostas de campanha presidencial foram a dolarização da economia em etapas, a redução dos gastos estatais e a privatização de empresas públicas. Além disso, sugere o fim das verbas rescisórias para reduzir os custos trabalhistas.

Milei é um defensor da fusão dos ministérios da Saúde e da Educação como uma forma de reduzir os gastos públicos. Além disso, ele defende um sistema de educação privado e que não seja obrigatório. Para isso, ele propõe a criação de vouchers pagos pelo governo para quem quiser estudar. Dentro do campo, ele também prevê a reforma do sistema de currículos na educação superior do país para focar na formação de engenheiros e cientistas da computação.

Na área trabalhista, ele afirma que quer reduzir os impostos pagos por empregadores e também do salário dos trabalhadores. Ele também defende o fim das indenizações por demissões sem justa causa.

Talvez a ideia mais polêmica de Javier Milei seja sobre a doação de órgãos. Em um programa de televisão no ano passado, ele propôs utilização de “mecanismos de mercado” para resolver o problema sobre transplantes de órgãos.

Vítimas da ditadura argentina vão ao metrô pedir votos contra Javier Milei

Pedido da neta de uma das fundadoras das Mães da Praça de Maio, morta por militares em 77, viralizou na internet

Nos últimos dias da campanha eleitoral argentina, os pedidos de voto chegaram até mesmo ao metrô da capital, Buenos Aires. Vídeos, que viralizaram nas redes sociais, mostram pedidos de vítimas da ditadura argentina para que seus compatriotas não votem em Javier Milei, candidato de extrema-direita que disputa o 2º turno contra Sergio Massa, peronista e atual ministro da Economia.

O medo de uma vitória de Milei, defensor da ditadura que matou ou desapareceu com mais de 30 mil argentinos, fez com que a neta de uma das fundadoras das Mães da Praça de Maio, assassinada em 1977 pelo regime, entrasse em um vagão da linha A para narrar a história de sua família. O caso aconteceu no último dia 7 de novembro.

“Peço desculpa, estou um pouco nervosa, nunca fiz isso na minha vida e faço porque estou muito preocupada”, começa Ana Fernández Careaga, conhecida como Anita Careaga.

“Nasci na Suécia, quando havia uma ditadura aqui na Argentina. Minha mãe tinha 16 anos quando a sequestraram, grávida de mim e a levaram para um campo de concentração, onde lhe tiraram tudo, inclusive seu nome, que passou a ser uma letra e um número. Ela foi brutalmente torturada”, continua ela.

Anita Careaga é filha de Ana María Careaga, sequestrada aos 16 anos por militares argentinos. Grávida de 3 meses, foi levada ao centro de detenção clandestina do Club Atlético e torturada por quatro meses.

Ao recuperar sua liberdade, Ana María conseguiu se exilar na Suécia, onde Anita nasceu em 11 de dezembro de 1977. A família voltou para a Argentina após o fim da ditadura, em 1983. “Não quero violência para meus filhos. Amo esse país, quero viver aqui”, diz a neta de Esther Ballestrino no metrô.

Com a filha sequestrada, Esther Ballestrino de Careaga passou a se organizar com os familiares de outros detidos e desaparecidos, fundando assim as Mães da Praça de Maio. Esther acabou presa também, sendo levada para o maior centro de detenção clandestino da ditadura argentina, a ESMA (Escola Superior de Mecânica da Armada). Dias depois, ela foi jogada viva ao mar, de um avião, junto com outras duas mães e duas freiras francesas.

“Na ESMA estava ‘o tigre’ [Jorge Eduardo] Acosta, um genocida que hoje pede que votem em Milei”, recorda Anita, que pede:

“Pela democracia, não votem em Milei” – Anita Careaga

Na Argentina, ao contrário do Brasil, um julgamento realizado contra a junta da ditadura militar, pelos crimes cometidos durante o regime, condenou mais de 1,2 mil pessoas por crimes contra a humanidade.

Veja vídeo de Anita Careaga no metrô, legendado em português:

Assista ao vídeo

Micromilitância

Nas redes sociais, outros vídeos como o de Anita viralizaram. É o que os argentinos têm chamado de micromilitância.

Sobrevivente da ditadura, a professora aposentada Elsa Lombardo contou nesta semana, em um metrô da linha B, o seu testemunho.

Elsa foi sequestrada por um grupo de policiais e levada para o Centro Clandestino de Detenção, Tortura e Extermínio (CCDTyE) El Olimpo.

“Em nome daqueles que não estão aqui, que são milhares e milhares e milhares, que em nome dos bebês que nunca apareceram, por favor pensem bem sobre o nosso voto para nunca mais voltar para a noite escura que foi a ditadura, o desaparecimento de pessoas, o medo e o terror”, disse ela, também muito aplaudida.

Um grupo de parentes de mortos e desaparecidos pela ditadura argentina também se manifestou em frente a estação Congreso de Tucumán, na linha D do metrô. “Não queremos que este país seja presidido por pessoas que reivindicam a última ditadura. Minha mãe foi sequestrada durante a gravidez”, protestou Verónica Castelli.

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