Band tem chance de ouro de cativar público da F1 na era do streaming

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A resolução do imbróglio dos direitos de transmissão trouxe uma gota de alívio e a surpresa do resultado inesperado. A Globo chegou a anunciar oficialmente que deixara o negócio em meados de 2020, mas voltou a carga e parecia perto de sacramentar a sequência da parceria de 40 anos com a Fórmula 1. Já no começo de 2021, então, surpresa: a Globo volta a deixar a mesa de negociações e, rapidamente, a até então distante Band anunciava o acordo por dois anos. E tem a oportunidade de dar o que os fãs mais sentem falta: carinho.

A Band já transmitiu a Fórmula 1, lá nos anos 1970. Foi naquela época e casa, inclusive, que Galvão Bueno se tornou responsável pelas transmissões de TV da categoria. Nos últimos anos, a emissora paulista sequer sonhava com um acordo pela categoria e mantinha a Indy aos trancos e barrancos, sempre no que dava a sensação de ser a beira do penhasco de uma crise que impediria a continuidade das transmissões. Não é hipérbole: a Band há muito já não era o ‘Canal do Esporte’ como foi anos atrás, mas ainda mantinha quantidade interessante de eventos até cinco anos atrás.

Sem dinheiro, foi perdendo. Com dificuldade, segurou a Indy, mas foi deixando os responsáveis pelo microfone irem embora. Téo José, Nivaldo Prieto, Felipe Giaffone… Mas a Band voltou a estabelecer o esporte como prioridade. Desde o ano passado, voltou a angariar diferentes eventos: NBA, Campeonato Italiano de Futebol, aproveitando-se também do passo atrás de outras companhias de mídia ao longo dos últimos 12 meses, situação aprofundada pela pandemia do novo coronavírus.

O acordo, há pouco impensável com o Liberty Media, empresa detentora da Fórmula 1, é bem diferente ao da Globo. Existe um popular bem-bolado, onde os paulistas puderam pagar menos diretamente ao Liberty e conseguiram se valer de acordos comerciais que favoreçam os estadunidenses. Além da Fórmula 1, a F2 e a F3 também estarão na Band, bem como Copa Truck, Porsche Cup e Stock Car.

Para isso, surgiu um novo problema: não havia equipe completa. Os nomes buscados foram velhos conhecidos globais: a narração é de Sérgio Maurício, titular do SporTV por tanto tempo; nos comentários, Reginaldo Leme, por décadas o dono dos comentários na Globo, e o retorno de Giaffone; nas reportagens, Mariana Becker. Glenda Koslowski também chegou para ser apresentadora do ‘Show do Esporte’, enquanto gente com longo tempo de casa, como Celso Miranda, certamente seguirá envolvida no processo.

A Band tem a máquina e uma equipe familiar ao público, e a verdade é que encara um sarrafo baixo. Não porque os responsáveis por narrações e comentários na Globo, profissionais do mais alto nível possível, tenham deixado a desejar. Mas porque a Globo decidiu editorialmente, há bastante tempo, relegar à Fórmula 1 a um evento que, por vezes, parecia até incomodar. A decisão de abrir mão de transmitir os treinos classificatórios em TV aberta nunca foi engolida pela Fórmula 1 e deixou boa parte dos fãs também entalados de forma crônica. Além disso, a categoria tinha pouquíssimo espaço na programação fora das transmissões.

Mais de meia década ficou para trás desde que os treinos de classificação da F1 não aparecem na TV aberta, o que afofou o terreno para a Band fazer a mesma coisa. A Band terá, essencialmente, as corridas na TV aberta e os outros eventos na fechada, no canal BandSports. A questão é que a Bandeirantes precisa de pouco. Sem programação de TV com as vozes da categoria para debater o campeonato e jogar conversa fora sobre o automobilismo, o fã brasileiro quer apenas um carinho. A Band não precisa se apaixonar ardentemente com os fãs, estes ficarão satisfeitos com qualquer cafuné honesto.

Um programa como o ‘Linha de Chegada’ pode ter perdido em audiência no fim do seu caminho no SporTV, cancelado em 2014, mas a verdade é que na reta final o ‘Linha de Chegada’ já não era muito parecido a uma mesa de debates, destas que o público brasileiro gosta tanto desde a ‘Grande Resenha Facit’. Com nomes tarimbados, alguma contundência e chamando para si a marca de ‘Casa do Automobilismo no Brasil’, a Band pode ter bastante sucesso com uma mesa redonda de velocidade em seu canal fechado. Sobretudo porque nichos podem até não alimentar canais de maior audiência, mas tampouco é este o caso do BandSports, normalmente um dos dois canais esportivos de menor audiência da TV fechada brasileira.