5ª noite de protestos nos EUA tem nova morte e desobediência a toque de recolher

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Mais uma pessoa morreu e ao menos três foram baleadas na 5ª noite de protestos nos Estados Unidos pela morte de George Floyd, homem negro que foi asfixiado por um policial branco e depois morreu, em Minneapolis, na segunda-feira (25).

Ao menos 25 cidades americanas em 16 estados determinaram toques de recolher por causa dos protestos, segundo a rede de televisão americana CNN. Fora dos EUA, também houve protestos em Toronto, Londres e Berlim.

5 fatos: entenda o caso Floyd

5 fatos: entenda o caso Floyd

O policial que asfixiou Floyd, Derek Chauvin, foi preso e acusado formalmente de homicídio, mas os manifestantes pedem que os outros policiais envolvidos no caso também sejam acusados, diz a rede americana.

Segundo um levantamento feito pela agência de notícias Assocated Press, pelo menos 1.699 pessoas foram presas em 22 cidades desde quinta-feira (28). Quase um terço das prisões ocorreu em Los Angeles, na Califórnia, onde o governo declarou estado de emergência e ordenou à Guarda Nacional que desse apoio aos 10 mil policiais da cidade.

O Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Robert O'Brien, em foto do dia 21 de maio na Casa Branca. — Foto: Mandel Ngan/AFP

O Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Robert O’Brien, em foto do dia 21 de maio na Casa Branca. — Foto: Mandel Ngan/AFP

Neste domingo (31), o Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Robert O’Brien, declarou em entrevista à CNN que não vê o racismo como sendo um problema existente na polícia americana. Ele foi questionado diretamente sobre isso pelo repórter da emissora.

“Não, eu não acho que haja racismo sistêmico. Existem alguns policiais ruins que são racistas e existem policiais que talvez não tenham o treinamento certo”, disse O’Brien.

No sábado (30), o Cirurgião-Geral dos EUA (cargo oficial cuja indicação cabe ao presidente), Jerome Adams, declarou que os Estados Unidos “precisam reconhecer o impacto do racismo na saúde”.

O Cirurgião-Geral dos EUA, Jerome Adams, em foto do dia 26 de maio, na Casa Branca. — Foto: Win McNamee/AFP

O Cirurgião-Geral dos EUA, Jerome Adams, em foto do dia 26 de maio, na Casa Branca. — Foto: Win McNamee/AFP

“Temos que reconhecer e abordar o impacto do racismo na saúde – ele afeta tudo, desde a mortalidade infantil e materna até o uso de drogas e o risco de sofrer violência”, escreveu Adams no Twitter.

Mortes e prisões

Manifestante grita em frente a um incêndio durante protesto em Los Angeles, na Califórnia, no sábado (30), pela morte de George Floyd. — Foto: Ringo H.W. Chiu/AP

Manifestante grita em frente a um incêndio durante protesto em Los Angeles, na Califórnia, no sábado (30), pela morte de George Floyd. — Foto: Ringo H.W. Chiu/AP

Na madrugada deste domingo (31), uma pessoa morreu e outras três foram baleadas durante os protestos em Indianápolis, no estado de Indiana, afirmou a polícia local. No sábado (30), um jovem de 19 anos e um agente federal morreram e centenas de pessoas foram presas durante os protestos.

Na cidade de Nova York, mais de 340 pessoas foram presas nas manifestações, que duraram até a manhã deste domingo (31). Ao menos 33 policiais ficaram feridos, alguns deles de forma grave, apurou a CNN junto às autoridades.

Em Seattle, no estado de Washington, ao menos 27 pessoas foram presas em manifestações na noite de sábado (30), informou a polícia. As infrações iam de agressões a incêndios, destruição e saques.

“A prioridade é proteger a vida e acabar com a destruição. Neste momento, sabemos que vários oficiais e civis foram feridos”, disse a chefe da polícia, Carmen Best. A Guarda Nacional também está atuando na cidade.

Manifestante para ao lado de um memorial em homenagem a George Floyd em Minneapolis, Minnesota, no sábado (30). Floyd morreu depois de ser asfixiado por um policial branco. — Foto: Kerem Yucel / AFP

Manifestante para ao lado de um memorial em homenagem a George Floyd em Minneapolis, Minnesota, no sábado (30). Floyd morreu depois de ser asfixiado por um policial branco. — Foto: Kerem Yucel / AFP

Em Jacksonville, na Flórida, um policial foi para o hospital depois de ser golpeado no pescoço, informou a polícia. O prefeito da cidade, Lenny Curry, declarou que o protesto na cidade, com 1,2 mil pessoas, tinha começado de forma pacífica, e, depois, ficou violento.

“Não vamos tolerar isso em nossa cidade ou deixar nossa cidade queimar até o chão”, disse Curry. Segundo a CNN, Jacksonville não é uma das 25 cidades americanas onde um toque de recolher foi imposto.

Ataques a repórteres

Policiais miram cinegrafista da agência de notícias Reuters durante protestos no sábado (30) em Minneapolis, Minnesota, pela morte de George Floyd. — Foto: Julio Cesar-Chavez/Reuters

Policiais miram cinegrafista da agência de notícias Reuters durante protestos no sábado (30) em Minneapolis, Minnesota, pela morte de George Floyd. — Foto: Julio Cesar-Chavez/Reuters

Também houve ataques a repórteres de vários veículos americanos.

Em Minneapolis, no estado de Minnesota, dois integrantes de uma equipe de TV da agência de notícias Reuters foram atingidos no sábado (30) por balas de borracha e ficaram feridos depois que a polícia entrou em uma área ocupada pelos manifestantes no sudoeste da cidade, pouco depois do horário do toque de recolher, às 20h (22h do horário de Brasília).

Também no sábado (30), um fotojornalista da emissora de televisão “KDKA TV” afirmou que foi atacado por manifestantes em Pittsburgh, no estado da Pensilvânia, enquanto cobria os protestos.

“Eles me pisotearam e me chutaram”, escreveu Ian Smith em um tuíte. “Estou machucando e sangrando, mas vivo. Minha câmera foi destruída. Outro grupo de manifestantes me puxou e salvou minha vida. Obrigado!”, disse.

Manifestante usa tábua para se proteger de gás lacrimogêneo lançado pela polícia durante protestos em Louisville, no Kentucky, no sábado (30), pelas mortes de George Floyd e Breonna Taylor. — Foto: Darron Cummings/AP

Manifestante usa tábua para se proteger de gás lacrimogêneo lançado pela polícia durante protestos em Louisville, no Kentucky, no sábado (30), pelas mortes de George Floyd e Breonna Taylor. — Foto: Darron Cummings/AP

Em Louisville, no estado de Kentucky, uma equipe de televisão gravou ao vivo o momento em que policiais disparam o que parecem ser bolas de pimenta contra a repórter. Os protestos na cidade também lembraram a morte de Breonna Taylor, mulher negra que morreu em março, dentro de casa, depois de receber vários tiros de policiais.

Na sexta-feira (29), uma equipe da rede de televisão americana CNN foi detida enquanto cobria os protestos, também em Minneapolis. No mesmo dia, a sede da emissora em Atlanta, na Geórgia, foi atacada por manfestantes.

Protestos na Casa Branca

Manifestantes seguram cartazes com a frase 'black lives matter' (em português, 'vidas negras importam') em frente ao Capitólio, em Washington DC, no sábado (30). — Foto: Jose Luis Magana/AFP

Manifestantes seguram cartazes com a frase ‘black lives matter’ (em português, ‘vidas negras importam’) em frente ao Capitólio, em Washington DC, no sábado (30). — Foto: Jose Luis Magana/AFP

Durante a noite de sexta (29) e na madrugada de sábado (30), também houve protestos em frente à Casa Branca, residência oficial do presidente Donald Trump na capital americana, Washington DC. Os manifestantes, que antes haviam percorrido a cidade, foram contidos por barreiras montadas por agentes do Serviço Secreto.

Agente do Serviço Secreto olha através de grades na Casa Branca enquanto manifestantes protestam pela morte de George Floyd em Washington DC, na sexta-feira (29). — Foto: Alex Brandon/AP

Agente do Serviço Secreto olha através de grades na Casa Branca enquanto manifestantes protestam pela morte de George Floyd em Washington DC, na sexta-feira (29). — Foto: Alex Brandon/AP

Em um tuíte no sábado (30), Trump disse que os protestos no local tinham “pouco a ver” com a memória de George Floyd, e que os manifestantes só estavam lá para “causar problema”. O presidente ameaçou ainda acionar a polícia militar, caso os estados não controlem os protestos.

Ele pediu que “governadores e prefeitos” que sejam “muito mais duros” ao lidar com manifestantes “ou o Governo Federal intervirá e fará o que deve ser feito, e isso inclui o uso ilimitado do poder militar e de muitas prisões.”

Morte de George Floyd

Policial foi filmado com o joelho sobre o pescoço de George Floyd — Foto: AFP/Facebook / Darnella Frazier

Policial foi filmado com o joelho sobre o pescoço de George Floyd — Foto: AFP/Facebook / Darnella Frazier

George Floyd morreu no dia 25 de maio, depois de ser asfixiado por 8 minutos e 46 segundos pelo policial branco Derek Chauvin em Minneapolis, no estado de Minnesota. Na sexta-feira (29), Chauvin foi detido e acusado de homicídio. Documentos obtidos pela rede americana CNN mostram que a fiança do policial foi estabelecida em US$ 500 mil (cerca de R$ 2,7 milhões).

Segundo a acusação contra Chauvin, ele manteve seu joelho sobre o pescoço de Floyd durante os 8 minutos e 46 segundos, sendo que nos últimos 2 minutos e 53 segundos o homem, negro, já estava inconsciente. A autópsia informou, entretanto, que não houve “nenhum achado físico que apoie o diagnóstico de asfixia traumática ou estrangulamento”.

Caso George Floyd: homem morre após brutalidade de policial em Minneapolis

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Caso George Floyd: homem morre após brutalidade de policial em Minneapolis

No entanto, o efeito conjunto de George Floyd ter sido asfixiado mais suas condições de saúde pré-existentes e a possibilidade de haver substâncias intoxicantes em seu corpo “provavelmente contribuíram para sua morte”, de acordo com a acusação.