De sucessivas baixas à alta repentina: entenda as oscilações do dólar

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Nos últimos dias, o dólar norte-americano registrou uma sequência de oscilações. Depois de quedas consecutivas no início do mês, a moeda voltou a superar a cotação dos R$ 5 na última 4ª feira (27.abr). No entanto, nesta 6ª feira (29.abr), o dólar comercial fechou praticamente estável, cotado a R$ 4,948, com mínima de R$ 4,86 e máxima de R$ 4,959.

Na sessão de hoje, o recuo foi de mais de 1,2%, e apontava para um terceiro dia consecutivo de baixa, aos poucos se distanciando do patamar de R$ 5. Segundo Sean Butler, economista e sócio-fundador da Golfinvest/XP Investimentos, alguns fatores explicam essa volatilidade. “Hoje, o principal seria a definição da Ptax, taxa de câmbio calculada pelo Banco Central que serve de referência para a liquidação de derivativos”, diz.

Além disso, no radar do mercado financeiro está a perspectiva de que o Fed, banco central americano, deva aumentar o aperto da política monetária na próxima semana. Outro dos fatores que tem influenciado fortemente nas variações da moeda é a guerra entre Rússia e Ucrânia. Com o conflito no Leste Europeu, o custo de insumos de grande importância, como commodities, tende a aumentar. A inflação a nível global faz com que os países elevem os juros para controlar a alta dos preços.

“O presidente do Banco Central norte-americano, Jeremy Power, falou recentemente que a inflação atual do país é a maior dos últimos 40 anos. Com indícios de que haverá uma alta no juros, muitos investidores que estavam em mercados emergentes [como o Brasil] estão retornando a ativos de menor risco e com rendimento maior”, explica o economista e pesquisador da Unicamp, Felipe Queiroz.

Isso significa que os juros mais altos nos EUA fazem com que investidores prefiram apostar em renda fixa norte-americana. Dessa forma, os recursos no país aceleram, beneficiando a moeda.

Somado a isso, os analistas destacam que o avanço de novos casos de covid-19 na China também afetam a variações da moeda. Havia o receio de que a possibilidade de novos lockdowns afetassem a cadeia de suprimentos de muitos setores industriais que dependem de componentes produzidos, em maior parte, no país asiático. A disparidade entre oferta e demanda, consequentemente, leva a um aumento ainda maior dos preços.

“Em decorrência do processo de globalização da produção e da interdependência dos países, um movimento numa determinada região do mundo tem efeito cascata nas demais”, ressalta Queiroz.

Enquanto isso, no Brasil

Além dos fatores elencados acima, questões internas também afetam a desvalorização do real frente a outras moedas. “Não podemos desconsiderar que a permanente crise política interna que o Brasil atravessa afeta a quantidade de entrada e saída de capitais”, analisa o economista da Unicamp. “Fundos de investimentos estrangeiros, ao menor rumor de crise política, tiram capital do país”, acrescenta.

Para Sean Butler, a expectativa é que as oscilações do dólar continuem. Por esse motivo, o momento não é o ideal para comprar a moeda. Ele avalia ainda que o cenário pré-eleições influenciará nas taxas de câmbio.

“Após a posse do próximo presidente eleito, seja ele quem for, haverá um favorecimento do ambiente interno do ponto de vista fiscal. E, com isso, uma tendência de melhora da nossa moeda em relação ao dólar”, afirma o especialista.