Horta Comunitária de Manguinhos toma espaço de cracolândia e garante o sustento de 800 famílias afetadas pela pandemia

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Quem planta o bem colhe o bem. No caso da Horta Comunitária de Manguinhos, os frutos de uma iniciativa humanitária hoje garantem a sobrevivência de 800 famílias da região, afetadas pela pandemia. Uma antiga cracolândia foi restaurada e transformada em área de cultivo de quiabo, batata-doce, couve e hortaliças totalmente orgânicas. A horta já é considerada a maior da América Latina por ocupar uma área equivalente a quatro quadras de futebol.

Francisca de Souza, de 52 anos, é uma das moradoras que se beneficia semanalmente dos alimentos plantados no espaço. Mãe de cinco filhos e avó de dois netos, que estão desempregados e moram com ela, a cozinheira conta que, sem as doações, a família não teria alimentação garantida: a renda mensal passou a ser de apenas um salário mínimo para suprir as necessidades de oito pessoas.

— Eu recebo doações desde quando a horta surgiu. Além do que recebo, sempre que falta algo em casa eu vou lá pedir e eles me dão. Agora na pandemia eu estou precisando ainda mais porque todo mundo está em casa e tem sido ainda mais difícil — conta Francisca.

A horta de Manguinhos foi inaugurada em 2013 e faz parte do Programa Hortas Cariocas, uma iniciativa da Prefeitura do Rio criada através da Secretaria municipal de Meio Ambiente. Em toda a cidade, o programa abrange 3.720 canteiros, com 24 hectares de áreas cultivadas, em 25 escolas e 24 comunidades. Alguns dos colégios beneficiados são as escolas municipais Andrade Neves, em Jardim América, e Barão de Macahubas, em Inhauma, e os Centros Integrados de Educação Pública (CIEP) Presidente Agostinho Neto, no Humaitá, e Alberto Posseiro Mário Vaz, em Guaratiba. Os morros do Salgueiro, da Formiga e do Borel, na Tijuca, também fazem parte do programa.

Especialmente em Manguinhos, a agricultura conta com o trabalho de 21 hortelões, que vivem na região e tiram seu sustento exclusivamente da horta. Neste período de pandemia, apesar da quantidade de funcionários ter sido reduzida pela metade, devido ao risco de contágio pela Covid-19, a oferta de produtos se manteve estável: cerca de duas toneladas são colhidas por mês somente na comunidade. Em 2020, o Hortas Cariocas fechou o ano com produção de 82 toneladas de cultivo – 13,8% a mais em relação a 2019, quando foram 72 toneladas. Ao todo, 220 hortelãos ganham bolsas para manter as produções.

Menos criminalidade e mais limpeza

Outra principal conquista para os moradores de Manguinhos é a retirada da cracolândia, que ocupava o espaço da atual horta. Para Juliana Ferreira de Carvalho, moradora de Manguinhos há 18 anos que também se beneficia da horta, a reestruturação do espaço diminuiu a criminalidade e expulsou animais como ratos e baratas, que habitavam o local junto aos usuários de drogas:

— Eu sou muito mais feliz morando aqui, porque agora não precisamos lidar com o mau cheiro e o perigo foi reduzido. A área era toda escura e, hoje tem iluminação.

A Secretaria municipal de Meio Ambiente informou que, em 2013, quando a horta foi fundada, usuários de drogas que viviam na região foram encaminhados para abrigos. De acordo com Ezequiel Dias, um dos responsáveis pela horta, de lá para cá, algumas pessoas em situação de rua passaram a rodear o local novamente. No entanto, afirma que nem eles nem os moradores locais degradam o espaço. Pelo contrário, respeitam porque sabem que é um projeto benéfico a todos: