Indígena brasileira pede urgência na COP26: “Terra está falando”

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Uma brasileira de 24 anos foi uma das principais vozes no primeiro dia da COP26, em Glasgow, na Escócia. Txai Suruí lembrou que seu povo, o Paiter Suruí, vive na Amazônia há pelo menos 6 mil anos e agora presencia uma mudança sem precedentes. “Os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo, as plantas não florescem como antes, a Terra está falando”, disse a indígena, que pediu uma ação imediata para limitar os efeitos da mudança climática.

 

A indígena brasileira ganhou espaço no debate internacional sobre a preservação da Amazônia. Em seu discurso, ela também homeangeou Ari Uru-eu-wau-wau, indígena de 34 anos, assassinado em abril do ano passado. Ele fazia parte de um grupo do povo Uru-eu-wau-wau que registrava e denunciava a extração ilegal de madeira em Rondônia. Até hoje, o crime não foi solucionado.

Antes dela, o primeiro-ministro britânico tinha feito o primeiro discurso dia, fazendo referência ao personagem James Bond, que é escocês. “A tragédia (que precisamos evitar) não é um filme. A máquina do juízo final é real.” Nos últimos dias, Boris Johnson já tinha admitido que era preciso mais compromisso dos países pra que a COP26 não termine em fracasso.

Um dos principais objetivos da Cúpula do Clima é que governos do mundo inteiro se comprometam a atingir a neutralidade de carbono em 2050. A neutralidade é atingida quando um país emite a mesma quantida de CO2 que retira do ar. Só assim, segundo a ONU, o planeta terá 66% de chances de não se aquecer mais do que 1,5 grau até o fim do século.

O Brasil é um dos países que se comprometeram com a meta de 2050, com redução de 50% nas emissões de gases até 2030. A confirmação foi feita hoje pelo ministro do meio Ambiente, Joaquim Leite. Mas o governo brasileiro é criticado por usar a base desatualizada, o que pode levar que o país ainda emita mais gases do que o que foi comprometido em 2015, durante a COP de Paris.

China e Rússia, por outro lado, só querem zerar suas emissões em 2060. Em Glasgow, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, confirmou que seu país só deve atingir a neutralidade em 2070. Chineses, russos e indianos estão entre os 10 maiores poluidores do planeta.

Antônio Guterres

Um dos discursos mais duros na abertura da Conferência do Clima foi do secretário-geral da ONU, Antônio Guterres. “Chega de brutalizar a biodiversidade, chega de nos matar com gás carbônico, chega de tratar a natureza como um vaso sanitário”. O português afirmou que “estamos cavando a nossa própria cova”.

Guterres também fez referência ao Brasil ao lembrar que “algumas partes da Floresta Amazônica já estão emitindo mais gás carbônico do que absorvem” e pressionou os países ricos a cumprirem o compromisso de doar US$ 100 bilhões aos países pobres e em desenvolvimento pra tornar suas economias menos poluentes. O Brasil quer parte desse dinheiro, mas precisa convencer a comunidade internacional que vai aplicar bem os recursos.

“O mundo tá cobrando resultados concretos do Brasil e nós infelizmente não estamos apresentando esses resultados, sobretudo no que se refere aos ilícitos cometidos na Amazônia: as queimadas, o desmatamento e o garimpo ilegal”, disse ao SBT News o ex-embaixador do Brasil no Reino Unido e nos Estados Unidos Rubens Barbosa.

A Conferência do Clima vai até 12 de novembro.