Previdência: Bolsonaro pede sacrifício aos militares

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O presidente Jair Bolsonaro pediu nesta quinta-feira (7), durante cerimônia do 211° aniversário do Corpo de Fuzileiros Navais, na sede da Marinha, no Rio, “sacrifício” dos militares diante da reforma da Previdência que os atingirá.

— Quero dos senhores sacrifício também. Entraremos, sim, em uma nova Previdência, que atingirá os militares, mas não deixaremos de lado nem esqueceremos a especificidade de cada força — disse.

— Irmãos e irmãs militares, eu quero para vocês uma retaguarda jurídica para que vocês possam bem exercer o seu trabalho, em especial, nas missões extraordinárias da frota.

Os ministros da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, além do prefeito Marcelo Crivella, acompanharam Bolsonaro na cerimônia. Representantes militares dos Estados Unidos, Peru e Chile também estiveram no evento.

Mourão diz que Bolsonaro foi ‘mal interpretado’ em fala sobre Forças Armadas e democracia

Em evento no RJ, presidente afirmou que ‘democracia e liberdade só existem quando as Forças Armadas querem’. Para o vice-presidente, Bolsonaro quis dizer que democracia e liberdade ‘morrem’ nos locais em que militares não estão comprometidos com esses valores.

Bolsonaro deu a declaração na manhã desta quinta, no Rio de Janeiro, ao participar da cerimônia de aniversário do Corpo de Fuzileiros Navais. Ao discursar, o presidente citou as Forças Armadas ao abordar a “missão” de governar o Brasil.

 — Foto: Montagem/G1 — Foto: Montagem/G1

— Foto: Montagem/G1

Questionado por repórteres sobre a declaração do presidente da República ao chegar à Vice-Presidência, Mourão citou a Venezuela como exemplo de local onde as Forças Armadas não se comprometeram com democracia e liberdade para justificar o argumento de que Bolsonaro teria sido mal interpretado pelos jornalistas na cerimônia dos fuzileiros navais.

“O que que o presidente quis dizer? Está sendo mal interpretado. O presidente falou que onde as Forças Armadas não estão comprometidas com democracia e liberdade, esses valores morrem. É o que acontece na Venezuela. Lá, infelizmente, as Forças Armadas venezuelanas rasgaram isso aí. Foi isso que ele [Bolsonaro] quis dizer” (Hamilton Mourão)

Indagado sobre se o tom da fala do presidente foi ameaçador, Mourão respondeu que discorda dessa análise. “Não acho isso [que foi ameaçador]. Acho que foi exatamente o que ele quis dizer. É o caso que a gente vive aqui no Brasil”, enfatizou.

O vice-presidente também foi questionado pela imprensa sobre se concorda com a avaliação de Bolsonaro. Ao responder, Mourão ressaltou que se as Forças Armadas não são comprometidas com democracia e liberdade, esses dois valores não sobrevivem.

“Se as Forças Armadas não são comprometidas com democracia e liberdade, elas não subsistem. Está aí o nosso vizinho, a Venezuela, para mostrar isso aí.”

‘Mal interpretado’

 — Foto: Montagem/G1

A avaliação interna da equipe presidencial é que o governo perde energia com temas que mais geram desgaste do que frutos para seu futuro. É uma administração que produz crise demais num curto espaço de tempo e deveria focar no que realmente interessa, medidas na área econômica, caso não queira frustrar seu eleitorado e a população.

Nas palavras de um assessor, de nada vai adiantar ficar fazendo discurso, postagens nas redes sociais e pregação sobre temas conservadores, se a crise econômica não for enfrentada e resolvida. Essa tem de ser a prioridade do presidente Jair Bolsonaro, avaliam auxiliares palacianos.

E não há mais tempo a perder. Afinal, as previsões sobre o crescimento deste ano começam a piorar: já caíram oficialmente de 2,48% para 2,3%. Alguns economistas já falam em menos de 2%.

Na visão da equipe presidencial, Bolsonaro precisa entender que o que fará a diferença sobre seu governo é se ele conseguirá fazer o país voltar a crescer forte.

Se não conseguir, a avaliação é de que ele começará a perder prestígio e apoio. E o momento não é de perder força e capital político com assuntos que não irão mudar a realidade econômica do país. A reforma da Previdência, por exemplo, não estaria ganhando espaço na agenda presidencial que merece e necessita.

A demora do governo em encaminhar a proposta de mudança na aposentadoria dos militares pode até inviabilizar, de vez, as previsões que já eram consideradas otimistas de aprovar a reforma da Previdência ainda neste primeiro semestre no Congresso.

Agora, o que se ouve nos corredores do Congresso, é que há até risco de a proposta não ser votada em dois turnos na Câmara antes do recesso parlamentar.

Afinal, além da demora no envio do projeto sobre os militares, o governo ainda patina na formação de sua base aliada. E o clima deve ser de tensão nas próximas semanas, com algumas votações previstas sem uma base ainda montada, como as medidas provisórias que reestruturam a Esplanada dos Ministérios e a que busca combater fraudes na concessão de benefícios previdenciários.

Na semana passada, Mourão também disse que Bolsonaro foi ‘mal interpretado’ ao falar sobre mudança para idade mínima de mulheres

A polêmica em torno da fala de Jair Bolsonaro sobre Forças Armadas e democracia é a segunda vez, em menos de uma semana, que o vice-presidente da República afirma que o presidente foi “mal interpretado” pela imprensa.

Na última sexta-feira (1º), Mourão atuou como “bombeiro” para tentar minimizar os efeitos da declaração de Bolsonaro de que existe a possibilidade de reduzir, na proposta de reforma da Previdência, a idade mínima para a aposentadoria de mulheres.

O presidente da República havia feito com comentário na véspera ao oferecer um café da manhã a jornalistas no Palácio do Planalto. Na ocasião, Bolsonaro admitiu que pode rever alguns pontos da proposta de mudança nas regras previdenciárias que foi entregue no mês passado ao Congresso Nacional. A declaração do presidente antecipando concessões na reforma antes mesmo de o texto começar a tramitar no Legislativo preocupou o mercado financeiro, gerando queda da Bovespa.

A proposta do governo enviada ao parlamento fixa a idade mínima de 62 anos para as mulheres poderem se aposentar, ao final do período de transição de 12 anos. Bolsonaro chegou a admitir reduzir a idade para algo em torno de 60 anos.

“Eu acho que aquilo foi mal interpretado até, não é? O presidente mostrou que tem coisas que o Congresso poderá mudar ou negociar. Foi isso, nesse aspecto. Não que ele concorde”, disse Mourão na ocasião para tentar conter a repercussão negativa da fala do presidente.

Assessores do governo federal ouvidos nesta quinta pelo Blog do Valdo Cruzafirmaram que a avaliação interna da equipe presidencial é de que a atua gestão perde energia com temas que mais geram desgaste do que frutos para seu futuro.

Na visão desses assessores palacianos, o governo Bolsonaro é uma administração que produz crise demais num curto espaço de tempo e deveria focar no que realmente interessa, medidas na área econômica, caso não queira frustrar seu eleitorado e a população.