Brasil x Sérvia: seleção estreia na Copa com time ofensivo e buscando coroar trabalho de Tite

0

A espera acabou. Depois de 1.602 dias, a seleção brasileira volta hoje a entrar em campo para disputar uma Copa do Mundo. Em grande fase, com um sistema defensivo sólido e muitas opções no ataque, o Brasil é considerado um dos principais favoritos a erguer a taça no Mundial do Catar. A estreia será contra a Sérvia, às 16h (no horário de Brasília), no Estádio Lusail — onde também será disputada a final da competição.

O técnico Tite tem todos os 26 jogadores convocados à disposição para montar o time titular, que deve ter uma formação ultraofensiva com um “quinteto mágico” formado por Lucas Paquetá, Neymar, Raphinha, Vinicius Junior e Richarlison. O treinador tentou fazer mistério ao longo da semana e não confirmou a escalação, mas Vini Jr é favorito para sair jogando na vaga que ultimamente vinha sendo do volante Fred.

Um dos principais nomes do Real Madrid multicampeão na última temporada, o atacante de apenas 22 anos chega à Copa em condições de ser o companheiro decisivo que muitas vezes faltou a Neymar na seleção — quadro que levou ao surgimento do termo “Neymardependência” nos últimos anos.

O camisa 10 também vive grande fase nesta temporada, com 16 gols e 13 assistências em 22 jogos. Ainda controverso fora de campo, Neymar tem demonstrado maior comprometimento com o coletivo e terá sua terceira chance de levar a seleção brasileira ao sucesso em uma Copa do Mundo. O atacante não conseguiu superar Courtois na eliminação para a Bélgica em 2018, e havia se lesionado no jogo anterior aos 7 a 1 para a Alemanha na Copa de 2014.

A vocação ofensiva desta equipe é notável já a partir da convocação: são nove atacantes entre os 26 selecionados para estar no Catar. Essa lista inclui sete estreantes que ajudaram a renovar uma equipe que manteve apenas nove atletas do grupo que havia jogado o Mundial da Rússia.

— É importante todo mundo saber seu papel em campo. E, para vencer, é preciso saber também o momento certo de atacar e de defender. Como atacante, prefiro o time ofensivo — disse Raphinha, um dos novos nomes desta seleção, em entrevista coletiva nesta semana.

A seleção não perde em estreias em Copa do Mundo há 88 anos, desde uma derrota por 3 a 1 para a Espanha em 1934. A marca será colocada à prova diante de uma Sérvia com grande potencial de ameaçar o gol defendido pelo goleiro Alisson. A seleção treinada por Dragan Stojkovic conta com meio-campistas criativos como Tadic e o polivalente Milinkovic-Savic. No ataque, dois artilheiros natos: Mitrovic e Vlahovic.

Brasil e Sérvia já mediram forças na Copa da Rússia, também na fase de grupos: vitória brasileira por 2 a 0, com gols de Paulinho e Thiago Silva — que será o capitão da seleção hoje. A única equipe pentacampeã do mundo só enfrentou os sérvios outra vez na história, também com triunfo, por 1 a 0 em 2014.

A busca pela sexta estrela no uniforme será o último capítulo da era Tite na seleção brasileira. O técnico que reconstruiu a equipe a partir de 2016 deixará a Canarinho logo após a disputa do Mundial.

Em seis anos, Tite teve apenas cinco derrotas em 76 jogos à frente da seleção, com 58 vitórias e 13 empates. Apesar desse retrospecto, do título conquistado na Copa América de 2019 e de ter conduzido a seleção à melhor campanha da história das Eliminatórias Sul-Americanas, o saldo de seu trabalho dependerá do desempenho do Brasil no Catar. Isso porque a lista de cinco derrotas do treinador inclui dois grandes traumas para o torcedor: a eliminação na Copa de 2018 e a derrota para a Argentina na final da Copa América do ano passado.

A trajetória até o hexacampeonato terá pela frente dois adversários já conhecidos nesta primeira fase. Pelo Grupo G, o Brasil enfrentará a Suíça às 13h de segunda-feira, e depois vai encarar a seleção de Camarões, no dia 2, às 16h. Caso avance para as oitavas de final, o adversário sairá do grupo que reúne Portugal, Uruguai, Gana e Coreia do Sul.

Raio-X do Brasil na Copa do Catar: tudo que você precisa saber sobre a seleção em busca do hexa

Raio-X do Brasil na Copa do Mundo do Catar

Tabela na 1ª fase:

(com horários de Brasília)

  • 24 de novembro – 16h – Brasil x Sérvia
  • 28 de novembro – 13h – Brasil x Suíça
  • 02 de dezembro – 16h – Camarões x Brasil

A estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo do Catar, nesta quinta-feira, às 16h (de Brasília) será contra os sérvios, que também foram adversários na fase de grupos da Copa de 2018. Naquela ocasião, na terceira rodada, o Brasil venceu por 2 a 0, e a Sérvia foi eliminada. Desta vez, o técnico Dragan Stojkovic e seus comandados têm buscado transmitir confiança em um final diferente.

Nesta quarta-feira, véspera do jogo, Stojkovic ironizou a formação ofensiva do Brasil na estreia —falaremos disso mais abaixo — e perguntou se “vai jogar alguém lá atrás”. O técnico Tite, em entrevistas antes da estreia na Copa, preferiu fazer mistério sobre a escalação.

O plano

O termo “Neymardependência” foi incansavelmente usado pela imprensa brasileira na última década, sobretudo depois das eliminações nas duas últimas Copas do Mundo (a de 2014, quando os anfitriões perderam por 7 a 1 para a Alemanha, com o craque fora por lesão, os brasileiros preferem esquecer…). Mas o surgimento de uma geração talentosa de atacantes fez a expressão cair em desuso e obrigou o técnico Tite a encontrar espaço para encaixar tantos jovens.

Simulador: você decide quem será campeão da Copa do Catar

Até o ano passado, Tite não conhecia Raphinha. O próprio treinador reconheceu em entrevista recente que foi sua equipe de scouting que observou o então atacante do Leeds, que se transferiu para o Barcelona no último verão por cifras milionárias. Hoje, Raphinha é titular ao lado de jogadores como Richarlison (Tottenham) e Lucas Paquetá (West Ham), também estreantes. Antony, que trocou o Ajax pelo Manchester United, estreou pelo Brasil em novembro de 2021, assim como Raphinha, e conquistou seu lugar.

A lista de opções é longa: Vini Jr colhe os frutos de seu amadurecimento no Real Madrid e tende a aparecer entre os titulares na estreia contra a Sérvia. Tite deve iniciar a Copa com a formação que permite o maior acúmulo de jogadores ofensivos em campo, e que passou a ser testada no fim deste ciclo pré-Copa justamente para acomodar Vinicius entre os titulares. Com isso, o volante Fred, um dos jogadores mais regulares da seleção, deve estrear no banco de reservas na Copa.

Você escala: quais os seus 11 titulares do Brasil na Copa do Mundo

“Na época da Copa América de 2019, não tínhamos o Antony, o Raphinha. Vini ainda estava se adaptando ao Real e Gabriel Martinelli ainda completando treino conosco. Essa geração chegou e opa! Foi a afirmação deles que deu essa condição (de poder jogar com até cinco atletas ofensivos ao mesmo tempo)”, disse Tite, em outubro, em entrevista ao GLOBO.

O toque de experiência está na defesa: Alisson joga sua segunda Copa como titular, enquanto o zagueiro Thiago Silva, aos 38 anos, se prepara para sua quarta participação — a terceira consecutiva como capitão — e para se tornar o mais velho a atuar pelo Brasil em uma Copa. O ponto de equilíbrio é Casemiro, suspenso na partida que marcou a eliminação da seleção na Rússia.

Viu? Copa do Catar: Como o 7 a 1 moldou quarteto de jovens da seleção

Ah, sim, e tem o Neymar, principal estrela e que agora não terá todos os holofotes apenas para si. Essa divisão de responsabilidades pode ser positiva para o craque do PSG que tenta, enfim, levar o Brasil ao hexacampeonato.

O treinador

Tite foi o bombeiro que assumiu a seleção brasileira em 2016, quando o time era apenas o sexto colocado nas Eliminatórias Sul-Americanas. “Eu joguei a minha carreira toda naquela oportunidade”, disse em entrevista recente. O treinador tranquilo e de tom professoral classificou o Brasil para a Rússia, mas perdeu para a Bélgica nas quartas de final. Mais experiente e com um ciclo completo para trabalhar com tranquilidade, espera chegar mais longe. “A construção nos dá segurança e confiança. Se vamos ser campeões ou não, é outra história”.

O craque

Neymar vai para sua terceira Copa do Mundo e espera, enfim, deixar as críticas para trás. Em 2014, se lesionou nas quartas de final e ficou fora da vexatória derrota para a Alemanha por 7 a 1. Na Rússia, há quatro anos, os vídeos do atacante rolando pelo chão ao sofrer faltas correram o mundo e o transformaram em uma piada mesmo que tenha feito uma Copa com atuações regulares.

Caso não mude de ideia, a do Catar será sua última Copa do mundo e, portanto, a última oportunidade de provar seu amadurecimento como líder desta geração.

O “herói anônimo”

A camisa 9 carrega sempre grandes expectativas da torcida brasileira em Copas do Mundo. Há 20 anos, em Yokohama, Ronaldo foi artilheiro do Mundial e brilhou com os dois gols do quinto título, superando a muralha Oliver Kahn. Mas nas duas últimas edições, os centroavantes do Brasil foram decepcionantes: primeiro com Fred e, há quatro anos, com Gabriel Jesus.

Agora, Richarlison vestirá esse número mágico e vive grande fase com a camisa amarela. O Pombo, que trocou o Everton pelo Tottenham, é o vice-artilheiro da seleção neste ciclo, com 16 gols.

Time-base na Copa

(4-3-3) Alisson; Danilo, Marquinhos, Thiago Silva e Alex Sandro; Casemiro, Paquetá e Neymar; Raphinha, Vinicius Jr. e Richarlison

Variação (com Fred, sem Vinicius Jr.): Alisson, Danilo, Marquinhos, Thiago Silva e Alex Sandro; Casemiro, Fred e Paquetá; Raphinha, Neymar e Richarlison

Posicionamento sobre o Catar

Os jogadores brasileiros não fizeram comentários sobre a situação dos direitos humanos no Catar. A CBF tem feito campanhas de combate ao racismo e homofobia nos campeonatos domésticos, mas também não se posicionou sobre as questões da sede da Copa do Mundo.

Hino nacional

Quase um século separam música e a letra atual do Hino Nacional. Por volta de 1830, quando Brasil ainda era império, o maestro Francisco Manuel da Silva compôs uma melodia vibrante e triunfal, que permaneceria sem texto até 1909, quando um concurso escolheu a composição poética de Duque Estrada, declarada oficial em 1922, ano do centenário da Independência de Portugal. A letra celebra um país de “povo heroico” e “gigante pela própria natureza”, glorificando as riquezas naturais.

O ídolo — alternativo — de todos os tempos

Garrincha. Quando Pelé se machucou na segunda partida da Copa do Mundo de 1962 no Chile, um homem que ficou conhecido como o “anjo das pernas tortas” assumiu a batuta e levou o Brasil à sua segunda Copa do Mundo. Garrincha, lateral-direito do Botafogo, foi uma síntese do jeito brasileiro de jogar futebol. Ele tinha talento de sobra, era despreocupado, adorava driblar e basicamente fazia a festa em campo. O Brasil nunca perdeu quando ele e Pelé jogaram juntos.

Na Copa do Mundo de 1962, Garrincha foi o melhor jogador do torneio, marcando quatro gols. Infelizmente, as coisas não foram tão fáceis para ele fora do campo: ele lutou contra o alcoolismo ao longo de sua vida e morreu de danos no fígado aos 49 anos.