Como Messi superou comparações e, na 5ª tentativa, pode fazer do Catar a sua Copa

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Maxi Rodríguez, meia da Argentina em três Copas do Mundo, acredita que apontar o melhor entre Messi e Maradona é tão difícil como “escolher o favorito entre seu pai e sua mãe”. Javier Zanetti, terceiro atleta com mais jogos pela albiceleste, defende que os dois estão no “mesmo nível” e que “isso não mudará em função do resultado da final”. Em um país que trata seu ídolo como Dios, tais declarações soariam a heresia até alguns anos atrás, mas a jornada do atual camisa 10 o alçou a um patamar que lhe permite, aos 35 anos, fazer sua melhor Copa do Mundo e sonhar com o título em sua quinta e, muito provavelmente, última tentativa.

Pouco mais de 6 mil dias separam a final de hoje contra a França, às 12h (de Brasília), no Lusail, da tarde de 21 de junho de 2006, em Gelsenkirchen, quando Messi entrou em campo no segundo tempo contra Sérvia e Montenegro e se tornou o mais jovem a jogar e fazer um gol pela Argentina em Copas. Desde então, o jogador experimentou mais frustrações do que alegrias em Mundiais e, durante boa parte desses 16 anos, conviveu com as críticas de não render com a camisa azul e branca o mesmo que fazia pelo Barcelona, seu ex-clube.

falta de conexão

Também pesava sobre o camisa 10 a falta de conexão com o torcedor argentino, o que sempre se atribuiu à ida precoce para o futebol europeu. Messi migrou com a família de Rosário para Barcelona quando tinha apenas 13 anos e não se criou nas canchas dos clubes mais populares, como fez Maradona, que defendeu Argentinos Juniors e Boca antes de ir para o mesmo Barça, na década de 1980.

Na carreira de Messi, as quedas nas Copas do Mundo quase sempre contrastaram com as glórias que o alçaram a melhor jogador do planeta neste milênio. Em 2006, aos 19 anos, ele havia acabado de conquistar sua primeira Champions League pelo Barcelona, quando caiu nas quartas de final para a Alemanha, jogando menos minutos que a imprensa local gostaria. O jovem, ainda com a camisa 19, entrou em campo em três das cinco partidas e fez um só gol.

Em 2010, ano seguinte à sua primeira de sete Bolas de Ouro de melhor jogador, passou em branco na Àfrica do Sul, quando foi treinado justamente por Maradona, que dividiu com ele os holofotes, mas que fez as comparações multiplicarem depois da queda nas quartas de final. Quatro anos mais tarde, levou uma Argentina sem brilho, mas eficiente, à final contra a Alemanha: foi eleito o melhor do torneio, fez quatro gols, mas saiu do Maracanã com o gosto amargo da derrota.

A corda esticou entre Messi e a seleção argentina nos anos seguintes. As perdas de duas Copas Américas seguidas (2015 e 2016) e o jejum de títulos da albiceleste aumentaram a pressão sobre seu principal nome, que chegou a anunciar a aposentadoria da seleção. De volta, amargou ainda uma eliminação nas oitavas de final na Rússia-2018, num tumultuado time de Jorge Sampaoli.

Volta por cima

O ponto de inflexão de Messi com a seleção argentina veio apenas no ano passado, quando o título da Copa América sobre o Brasil, no Maracanã, tirou de suas costas o peso de um país.

— É um dos melhores jogadores que vi na vida, e com a Copa América deu mais um passo. Fisicamente e futebolisticamente é difícil fazer melhor do que ele. Está bem e cheio de vontade — afirmou ontem o goleiro Dibu Martínez.

As palavras de Martínez revelam um traço importante da relação especial de Messi com esse grupo, que o assumiu como líder incontestável. O provável time titular de hoje, por exemplo, conta com jovens como Julián Álvarez (22), Enzo Fernández (21), Alexis Mac Allister (23) e Nahuel Molina e Cristian Romero (ambos com 24). São jogadores que cresceram tendo Lionel como ídolo e principal referência do futebol do país.

Em 17 anos pela seleção argentina (estreou em 2005, ano anterior à Copa da Alemanha-2006), Messi se tornou o atleta com mais jogos, com 171, e o maior goleador: 96, quase o dobro do segundo colocado (Batistuta, 57) e o triplo de Maradona (quinto, com 34). No Catar, se tornou também o maior goleador da albiceleste em Copas (11 gols) e hoje se isolará como o atleta que mais entrou em campo na história da competição, superando as 25 partidas de Lothar Matthaus.

Não há dúvidas que essa é a melhor Copa de Messi. Os números, as atuações, a relação com os jogadores, a forma de liderar, a adoração da torcida por ele, provam isso. Mas um triunfo hoje pode fazer este primeiro Mundial disputado no Oriente Médio entrar para a História não como a Copa do Catar, mas como a Copa de Messi.