Delegado Blonkowski nega envolvimento com tráfico e acusa Gaeco de abuso de autoridade

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O delegado Rodrigo Blonkowski, que foi denunciado por envolvimento com o tráfico de drogas, negou qualquer ligação com traficantes acusando o Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) de abuso de autoridade. O delegado foi alvo da Operação Concorrência, que apurou os crimes de tráfico de drogas, peculato e extorsão.

De acordo com o delegado, ele teria sido surpreendido com uma denúncia “totalmente descabida, com evidente motivação pessoal e abuso de autoridade dos membros do Gaeco, atribuindo a prática de associação para o tráfico”. Blonkowski disse ao Jornal Midiamax que, “Os supostos fatos aventados datam de 2018 e foram objeto de apuração pela corregedoria da PCMS. Não falo em nome dos demais, mas apenas em meu nome, na conclusão das investigações da corregedoria este delegado sequer fora indiciado.”, diz Rodrigo.

Blonkowski ainda acusa o Gaeco de tentar denegrir a sua imagem, “Mesmo assim, o Gaeco ofereceu denúncia, sabendo da inverdade dos fatos, da Inocência deste delegado, com a finalidade exclusiva de aventar na mídia e tentar denegrir a minha imagem – infelizmente práxis do Gaeco MS”.

Rodrigo também afirma, em nota, que não tem nada a esconder, no entanto, questiona o fato dos fatos relacionados à investigação estarem sendo noticiados pela imprensa.

O delegado foi denunciado em um esquema de tráfico orquestrado que contava até com pagamento de propina pelos próprios delegados a traficantes. O processo, que não está em sigilo e que o Midiamax teve acesso, identifica dois grupos liderados pelos delegados que foram denunciados por peculato, extorsão e tráfico de drogas.

Além de Rodrigo Blonkowski, o delegado Fernando Araújo também foi denunciado pelos mesmos crimes. Os dois, segundo a denúncia do Gaeco, eram líderes de grupos rivais com envolvimento com o tráfico de drogas. Os grupos ainda tinham investigadores como membros.

A denúncia do MPMS

A denúncia apresentada em relatório do Gaeco foi feita à Justiça no dia 28 de março deste ano, quando foi pedida a condenação e perda do cargo público dos delegados. A investigação concluiu que os delegados pagavam propina para que carregamentos de cocaína fossem identificados e depois roubados sendo revendidos pelo grupo comandado pelos policiais. Quem comprava a cocaína roubada eram narcotraficantes que tinham “parceria” com os delegados.

A denúncia do Gaeco aponta dois grupos que eram liderados cada um por um delegado, sendo os dois grupos rivais. O primeiro grupo era formado pelo delegado Rodrigo Blonkowski, que tinha como integrantes Amando Yoshitaka e Eduardo Alencar Batista conhecido como ‘Dudu’, e o segundo pelo delegado Fernando Araújo, que tinha como integrantes o investigador de polícia Emannuel Contis, Daniel Pereira Sampaio, Luiz Adriano Rondon e Valcir Ricardo. Os grupos atuavam em Ladário e Corumbá e tinham conhecimento da atuação do concorrente, segundo a denúncia do Gaeco.

Eduardo atuava como informante e traficante do seu grupo para a realização dos ‘arrochos’, sendo que relatava quando havia transporte de carga considerável de drogas. Ele monitorava o transporte de cargas nas estradas entre São Paulo e Mato Grosso do Sul. Eduardo, segundo a denúncia, chegou a fazer contato com motoristas de caminhões para encontrar as localizações.

Amando relatou na Corregedoria da Polícia Civil que Fernando tratava de ‘ironia’ quando chamava para trabalhar, e que na realidade a frase ‘vamos trabalhar’ seria para cometer crimes.

Conversas interceptadas

Em conversas interceptadas pelo Gaeco, no dia 31 de janeiro de 2019, um dos membros do grupo de Rodrigo diz que Fernando Araújo ‘arrochava’ ao falar de uma apreensão de uma motocicleta feita pelo delegado. Ainda na conversa, o membro do grupo fala que o ‘cara’ pagava o delegado.

Já em outra conversa, o grupo de Rodrigo era acusado de subtrair drogas para obter lucros. “Furtam a cocaína que é apreendida por eles…. fazem uma mistura na droga que fica apreendida sendo o restante de boa qualidade o qual o grupo negocia com traficantes”, dizia a mensagem interceptada.

Delegado dava ‘bonificação’ a traficantes

A denúncia do Gaeco ainda aponta que Rodrigo Blonkowski mantinha contato com um traficante, conhecido como ‘Bigão’, para fornecer informações de outros traficantes e, para isso, o traficante recebia ‘bonificações’. Um dos investigadores, que fazia parte do esquema, era o responsável por identificar os pontos de boca de fumo.

Quando os pontos de bocas de fumo eram localizados, os delegados faziam falsas diligências para a apreensão do entorpecente que era subtraído pelos delegados e revendido. No dia 11 de dezembro de 2018, um dos investigadores foi até a Bolívia para ‘arrumar um negócio’.

Os grupos liderados pelos delegados sempre tinham o cuidado de não fecharem ‘negócios’ por ligações e as conversas eram curtas, usando o WhatsApp e depois marcando encontros pessoalmente para que o ‘negócio’ fosse concluído. Assim, acreditavam evitar o rastreamento de suas ligações.

Foi identificado ainda pelo Gaeco que um traficante conhecido como ‘Dudu’ fornecia informações para o delegado Rodrigo. Em conversa interceptada do dia 8 de março de 2019, eles conversam sobre o carregamento de carga de cocaína, no total de 50 quilos. ‘Dudu’ era responsável por monitorar o transporte de drogas nas rodovias de Mato Grosso do Sul e de São Paulo.

Além de ser denunciado junto de Rodrigo Blonkowski por associação para o tráfico, o delegado Fernando Araújo da Cruz também foi denunciado por receber propinas da Máfia dos Cigarreiros. O delegado ainda foi acusado de ‘arrochar’ bolivianos que tentavam entrar com mercadorias do lado brasileiro cobrando para que fossem liberados.

De um homem, o grupo do delegado Fernando chegou a cobrar R$ 20 mil para que ele não fosse preso e tivesse o combustível clandestino liberado. Ainda de acordo com o Gaeco, Fernando Araújo teria se apropriado, em uma das falsas diligências orquestradas pelo grupo de armas, de dinheiro e celulares de um dos alvos do delegado.

A denúncia da atuação criminosa dos delegados é assinada por quatro promotores de Justiça de Corumbá, três deles integrantes do Gaeco. A denúncia tramita na 1ª Vara Criminal de Corumbá.

Confira a nota de Blonkowski na íntegra:

“Com relação a reportagem datada do dia 23/8 na qual narra denúncia do Ministério Público de tráfico e associação ao tráfico, reafirmo a total inverdade de tais fatos e a minha cabal inocência.

Em abril de 2022 o gaeco realizou a tal operação (se e é que assim se pode chamar diante de tamanho despreparo). Dessa operação resultaram dois processos na cidade de Ponta Porã, atribuindo a policiais e delegados práticas criminosas. Um desses processos foi devidamente julgado e após exaustiva instrução processual este delegado fora ABSOLVIDO. O outro processo se encontra concluso para sentença do magistrado e as oitivas das testemunhas demonstraram também a inocência deste delegado.

Após a publicação da primeira absolvição, fui surpreendido com uma denúncia totalmente descabida, com evidente motivação pessoal e abuso de autoridade dos membros do Gaeco, atribuindo a prática de associação para o tráfico. Ora, os supostos fatos aventados datam de 2018 e foram objeto de apuração pela corregedoria da PCMS. Não falo em nome dos demais, mas apenas em meu nome, na conclusão das investigações da corregedoria este delegado sequer fora indiciado! Ou seja, o detentor da investigação não encontrará mínimos indícios (até porque não existem) contra este delegado. Mesmo assim, o Gaeco ofereceu denúncia, sabendo da inverdade dos fatos, da inocência deste delegado, com a finalidade exclusiva de aventar na mídia e tentar denegrir a minha imagem – infelizmente práxis do Gaeco MS.

A nota ainda fala, “Também chama atenção o acesso dos meios de comunicação a PEÇAS de um processo  que tramita em SIGILO DE JUSTIÇA. Apenas as partes podem ter acesso (advogados, réus e acusação). A quem interessa divulgar e propagar inverdades? Providências sérias a esse respeito devem ser tomadas.

Não tenho nada a esconder, pelo contrário, como servidor público que sou me coloco a disposição para qualquer esclarecimento. Todavia regras processuais devem ser respeitadas, ainda mais quando envolvem a moral e imagem de pessoas.

Trabalhei na região de Corumbá por cerca de 4 anos. Juntamente com os demais policiais da região executamos trabalho de renome no estado, com inúmeras apreensões de droga e fechamento de bocas de fumo. Entristece-me ter que responder um processo absurdo e mesquinho, ainda mais diante da estapafúrdia tipificação de associação para o tráfico. Entretanto, encontro-me tranquilo e certo que a Justiça em breve será feita, bem como os responsáveis exemplarmente responsabilizados.” MIDIAMAX