Jogadora explica disfarce de mulheres nos e-sports: “Grosserias e assédio”

junho 28, 2017

Em Teresina, Bia Bauer afirma que mulheres são obrigadas a se camuflarem em perfis masculinos para não sofrer desrespeito e cita xingamentos: “Você devia estar lavando louça”

A edição 2017 da pesquisa Game Brasil repetiu um dado do ano anterior: mulheres são maioria entre os gamers no país (53,6%). O número, no entanto, surpreende muitas pessoas que afirmam não ver mulheres tão presentes no universo do jogos virtuais. A modelo e apresentadora Bia Bauer, que apresenta competições de e-sports Brasil afora, esteve em Teresina no BSL Nordeste e comentou a questão. Para ela, a pesquisa surpreendeu por um fato que reflete o machismo que ainda existe nesse mundo: mulheres escondem-se atrás de nicks (apelidos) masculinos para não sofrerem assédio.

Bia, que também é gamer, conta que não passa por muitos problemas por não jogar online, e assim não interage com jogadores desconhecidos. No entanto, as histórias de ofensas e cantadas são comuns entre garotas que jogam em rede, por isso muitas preferem criar personagens masculinos e até mesmo conversar no chat como se fossem homens, em uma tentativa de não sofrerem desrespeito.

Bia Bauer (Foto: Wenner Tito/GloboEsporte.com)

– Por incrível que pareça elas estão escondidas atrás de nicks masculinos. Elas jogam e muitas disfarçam até a forma de falar, usando as palavras no masculino para não identificar que é uma mulher jogando. Quando elas falam no feminino, as pessoas caem matando. Você vê cada coisa bizarra que parece mentira. Desde “você devia estar lavando louça” ou qualquer outra coisa que atribuam a mulher, a outras coisas bem pesadas, tipo xingamento, grosserias e assédio. Por isso elas se escondem, mas elas jogam muito – diz a apresentadora, que não se mostra surpresa com o resultado da pesquisa.

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Bia Bauer no no BSL Nordeste (Foto: Reprodução/Instagram)

Mesmo quando está a trabalho em alguma competição, a apresentadora conta que, apesar do carinho do público em geral, ainda houve alguns comentários insinuando que está ali apenas por ter conhecidos que jogam ou por ser um rostinho bonito, ao invés de ser reconhecida como parte dos gamers. Para ela, é necessário que algumas medidas sejam tomadas para que, com o tempo, mulheres possam ser mais bem aceitas neste meio.

“Você vê cada coisa bizarra que parece mentira. Desde “você devia estar lavando louça” ou qualquer outra coisa que atribuam a mulher, a outras coisas bem pesadas, tipo xingamento, grosserias e assédio. Por isso elas se escondem”

– (Precisa de) Conscientização, fazer campanhas o tempo inteiro e as meninas acabarem se expondo mais, apesar de que as primeiras sempre são “vidraça”; sofrem um pouco mais, mas é conscientização. Uma ótima solução seria times mistos. Hoje tem alguns, mas em campeonatos mais importantes você vê que não é comum – finaliza.