Motor arrancado, baixa altitude e cabo camuflado: as causas do acidente de Marília Mendonça

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O relatório com o resultado final da investigação sobre o acidente aéreo que matou a cantora Marília Mendonça — divulgado, na noite da última segunda-feira (15), pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão da Força Aérea Brasileira (FAB) — mostra que a aeronave em que estava a artista teve parte do motor esquerdo arrancada após a colisão com um cabo de uma rede de transmissão da Companhia de Energia de Minas Gerais (Cemig).

Com a força do impacto, o cabo de energia se enrolou no motor esquerdo, interrompendo abruptamente a rotação de uma das hélices. Em seguida, uma parte do motor se soltou. “Os exames do motor esquerdo revelaram a parte externa coberta de sujeira e detritos orgânicos e que havia um pedaço de cabo de aço enrolado no cubo da hélice. A parte frontal foi deformada e torcida para cima, alterando o eixo do motor”, esclarece o documento, que elenca as causas do acidente.

A investigação aponta que houve uma “avaliação inadequada” do piloto no momento da aproximação para pouso, “uma vez que a perna do vento foi alongada em uma distância significativamente maior do que aquela esperada para uma aeronave de ‘Categoria de Performance B'”. Em outras palavras, durante a aterrissagem, a aeronave se aproximou do aeródromo com uma distância maior do que a adequada, mantendo uma altitude baixa por tempo prolongado.

“Uma possível não utilização das cartas aeronáuticas disponíveis, que tinham por finalidade atender as necessidades do voo visual, pode ter contribuído para uma baixa consciência situacional acerca das características do relevo no entorno do aeródromo de Caratinga e da presença da linha de transmissão que interferiu na aproximação para o pouso da aeronave”, ressalta o laudo.

O documento frisa que o cabo de energia com que o avião se chocou estava camuflado com a paisagem do local. “No cenário em que ocorreu o acidente, verificou-se que a linha de transmissão possuía baixo contraste em relação à vegetação ao fundo. Por sua vez, a torre que sustentava a linha estava sobre uma área elevada e apresentava um contraste mais favorável à sua identificação”, afirmam os técnicos responsáveis pela análise do acidente.

Os mesmo documento estabelece recomendações de segurança que passam a valer, em território nacional, com a “intenção de prevenir ocorrências aeronáuticas”. A Agência Nacional de Energia Elétrica — subordinada ao Ministério de Minas e Energia — passa a ser instada a criar, em coordenação com o Departamento de Controle do Espaço Aéreo, requisitos de sinalização de redes de transmissão e de distribuição nos arredores de aeródromos, sobretudo daqueles situados em regiões com relevo acidentado.