Sem medo’ do contágio, MS tem pelo menos 1 novo caso de HIV/ AIDS por dia

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Autoridades sanitárias de Mato Grosso do Sul que lutam contra as Infecções sexualmente transmissíveis (IST’s) perderam um grande aliado: o medo. Sem o pânico de contrair as doenças, muita gente, principalmente jovens, tem deixado de se proteger. Com isso, apesar de se manter estável em comparação a anos anteriores, o Estado ainda registra, em média, um novo caso de HIV/ AIDS por dia. Somente neste ano, foram 350 registros, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES).

A perpetuação das infecções no Estado pode ser vista nos números e preocupa especialistas. Entre 2010 e 2017 — levantamento mais recente da SES —, 3.909 novas infecções de Aids foram notificadas no Estado.

A partir de 2015, novos parâmetros passaram a ser utilizados e com isso, houve a separação de registros em HIV positivo e AIDS nos municípios. Em Campo Grande, a coordenadoria do Programa IST/Aids notificou 182 casos de HIV, sendo 35 em gestantes, de janeiro até o dia 17 de outubro. Com relação a Aids, houve 117 notificações.

Epidemia de sífilis

Quando se fala de IST’s, a sífilis é principal preocupação das autoridades. De janeiro a outubro deste ano, 847casos foram notificados em Campo Grande. Este número já é 33% maior do que o total de registros no ano passado, quando foram 564 notificações. Os dados são da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau).

Ainda conforme o levantamento da Sesau, foram registrados 370 casos em gestantes de janeiro a outubro de 2017. No mesmo período do ano passado, 303 grávidas foram diagnosticadas. Já o caso da sífilis congênita, que é transmitida da mãe para o bebê, foram 125 casos notificados de janeiro a outubro deste ano, ante 112 notificações no mesmo período do ano passado.

No Estado, o número também é alto. Enquanto em 2016 foram notificados 3.043, em 2017, faltando pouco mais de dois meses para o ano acabar, já são 3.176 notificações.

Sem medo

Apesar do grande volume de informações sobre as ISTs, a parcela mais jovem da população é a que mais preocupa as autoridades, pois não se atenta à prevenção. Seja por não conhecer alguém doente, seja por não acreditar que isso possa acontecer consigo, para eles, a camisinha tem ficado em segundo plano.

“Eles não vivenciaram aquela epidemia onde as pessoas morriam de AIDS, agora, poucas mortes vêm a público. Os adolescentes conversam, debatem sobre o tema, mas não têm medo de morrer por causa da AIDS. Muitos sabem que a doença não tem cura, porém, perderam o medo da doença porque sabem que tem tratamento, e de graça”, diz a coordenadora do Programa IST/Aids e Hepatites Virais de Campo Grande, Denise Leite Lima.

Outro problema, é que apesar de o registro de casos ser confiável, há um hiato que deve ser levado em consideração: uma parcela de doentes sequer sabe que tem uma IST. Enquanto isso, a juventude, pouco preocupada, continua fazendo sexo sem camisinha a base da confiança.

“Na primeira relação sexual, o uso da camisinha é natural. Mas, quando a relação está estabilizada há mais tempo, quando já colocam relacionamento sério no Facebook, isso se perde. Com os jovens começando a vida sexual cada dia mais cedo, transando mais e com um número maior de pessoas, é ainda mais arriscado”, destaca a coordenadora.

Publicitário de 26 anos, que prefere se manter anônimo, tinha só 17 quando soube que era soropositivo. A descoberta veio no resultado de um exame para o primeiro emprego. Era a consequência de transar acreditando que a ele, a doença não atingiria. “A gente tinha palestras de educação sexual na escola, e até ganhava camisinha de graça. Mas eu nunca dei muita bola, quando descobri foi um choque”, conta.

Para quem trabalha com o combate, apesar das dificuldades, a única saída ainda é a informação. Mas, a prefeitura tem adotado medidas que vão além das campanhas convencionais de conscientização. “Nós intensificamos a campanha extra muros, fora das unidades de saúde. Descentralizamos a realização dos testes rápidos porque o serviço quer dar oportunidade aos cidadãos que não procuram as unidades de saúde para realizarem o exame. Hoje, o exame pode ser feito em 106 unidades de Campo Grande, incluindo a Santa Casa, Hospital Nosso Lar e até o presídio feminino”, diz.

Tratamento

A rede de assistência a soropositivos em Mato Grosso do Sul conta com 11 Unidades Dispensadoras de Medicamentos e ainda há 12 unidades com Serviço de Atendimento Especializado para o acompanhamento e tratamento de Aids.

O Estado tem também em sua relação de medicamentos disponíveis a Dose Fixa Combinada (DFC). Esse remédio é um comprimido que contém três medicamentos e a combinação faz parte do Protocolo Clínico de Tratamento de Adultos com HIV e Aids do Ministério da Saúde, publicado em 2013.

Em Campo Grande, os pacientes são atendidos pelo Centro de Doenças Infectoparasitárias (Cedip) e o Hospital Dia da Prefeitura Municipal de Campo Grande.

Além disso, no dia 18, a Sesau de Campo Grande lançou o Comitê de Prevenção da Sífilis Congênita e de Investigação da Transmissão Vertical do HIV, HTLV (vírus linfotrópico da célula T humana), Sífilis e Hepatites Virais.

A ideia é analisar as circunstâncias das ocorrências dos casos das doenças e quebrar a cadeia de transmissão em gestantes.

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