Ao receber carteira da OAB, indígena quer ser exemplo para jovens sem perspectivas

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Tiago Fernando Aquino Soares, 30, é um indígena da etnia Terena, morador da Aldeira Bororó, em Dourados, e recentemente realizou o sonho de se tornar advogado e conquistar a carteira da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), mesmo em meio a diversos desafios enfrentados.

Fruto da educação pública, Tiago concluiu o ensino médio na Escola Estadual Intercultural Guateka Marçal de Souza e se formou na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. Além disso, é militante dos direitos humanos, da criança e dos adolescentes e do direito indígena.

Sempre envolvido nas causas do seu povo, na faculdade representou os acadêmicos indígenas na UEMS na luta por um ônibus para levar os alunos até às faculdades públicas e privadas, “só os distritos eram beneficiados e as aldeias esquecidas pelo poder público”, relembrou.

Questionado sobre os preconceitos enfrentados no ensino superior, o advogado relembra, “as maiores dificuldades dentro da universidade foi a falta de dinheiro e recursos, pois minha família é de poucos recursos e eu não tinha como trabalhar”, explicou.

Além disso, ele cita o racismo institucional vivido durante os anos de faculdade, e também por parte dos colegas de sala, “de acharem que os indígenas não têm capacidade para se formarem ou passar em um concurso público”, pontuou Tiago.

Em 2019, o indígena Terena foi eleito para atuar no Conselheiro Tutelar e entre 2018 e 2021 assessorou o ex-cacique Izael Morales, na Aldeia Jaguapiru. Já em 2023, além de receber a carteira da OAB, o advogado deve entrar para a Comissão de Assuntos Indígenas.

Inclusive, sobre a entrada de Tiago nos quadros da OAB, a Comissão citou a importância, “representa ainda a abertura de caminhos para que outros como nós possam ocupar o espaço que nos foi tirado pelo longo processo de apagamento e preconceitos, ainda existentes”.

O advogado faz parte de uma geração que encontrou no direito uma forma de defender as garantias que a Constituição prevê aos povos indígenas. Ao meu ver, o poder público são os maiores violadores de direitos da comunidade indígena, sempre segregando” explicou.

“Que minha história seja inspiração para muitas pessoas, em especial os jovens indígenas, que atualmente não tem expectativa de vida devido à ausência de políticas públicas”, enfatizou o novo integrante da Ordem dos Advogados.