Jô Soares relembra o programa mais importante de sua vida

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Um dos maiores apresentadores da televisão brasileira, Jô Soares marcou época no SBT com o programa “Jô Soares Onze e Meia”, seu primeiro “talk show” diário, que ficou no ar entre 1988 e 1999 na emissora.

Em homenagem aos 40 anos do canal, o SBT News entrevistou Jô, que revelou bastidores da chegada à televisão de Silvio Santos. O “patrão”, inclusive, deu um toque fundamental para a história de sucesso do programa.

SBT News: O “Jô Soares Onze e Meia” foi um modelo inovador na televisão brasileira e é imitado até hoje como talk show. A ideia foi sua ou da casa?

Jô Soares: A ideia foi minha, aliás, eu só fui para o SBT pra fazer o programa. Quis fazer na Globo, mas não deu, não tinha espaço. Então eu falei “vou ter que ir para o SBT, porque lá o Silvio me dá o espaço”. O Sílvio não só me deu o espaço como me convenceu a fazer o programa diário. A minha ideia era fazer um programa longo uma vez por semana, e ele falou: “Não, esse tipo de programa só funciona se for diário”. Ele me convenceu, eu me lembro que assinava o contrato e ele tava dizendo assim: “É por aqui que eu vou te pegar, isso aqui vai dar certo”. Ele tinha uma intuição de bicho, né? E aí deu certo.

SBT News: Por que você tinha o desejo de fazer um programa como esse?

Jô Soares: Porque eu cheguei a fazer o programa do Silveira Sampaio, que era um programa de entrevistas, e eu colaborava, e sempre que eu via dizia assim: “Eu consigo fazer um programa desses, eu acho que essa linha de programa foi feita para mim.” Então era uma ideia fixa já.

SBT News: Você lembra de alguma entrevista fantástica ou a mais difícil, que nunca saiu da sua cabeça?

Jô Soares: Todas as entrevistas dão um trabalho, você tem que se dedicar inteiramente, agora tem algumas feitas aí no SBT que para mim marcaram história e ficaram como um registro, um legado que ficou para o jornalismo do SBT, e eu fico muito feliz por isso.

SBT News: Um fato engraçado é que o programa se chamava “Jô Soares Onze e Meia”, mas nunca entrava 23h30, não é, Jô?

Jô Soares: Não, nunca. Acabou virando um bordão, eu dizia sempre “É que são 23:30 em algum lugar do mundo, então é sempre 23h30”

SBT News: Uma entrevista normalmente conquista um público mais elitista, e você fazia isso numa emissora popular, era um desafio?

Jô Soares: Não, porque eu acho que você pode ser popular sem necessariamente ser vulgar, então você não vai me dizer que a entrevista na época Dom Helder não era popular? Era, claro, e com Zeca Pagodinho também. Eu acho que o popular não significa necessariamente falta de qualidade, você pode ter uma coisa muito popular e ao mesmo tempo não vulgar, uma coisa bem sofisticada e popular.

SBT News: Suas entrevistas sempre tiveram um toque de humor não é?

Jô Soares: O tempo todo, era um toque de irreverência e de humor, que era do meu feitio

SBT News: Dizem que existia uma briga de artistas para serem entrevistados por você. Depois que aparecia no “Jô Onze e meia” qualquer um ficava bem na fita, é isso?

Jô Soares: Eu me sinto muito lisonjeado com isso, mas é mais ou menos verdade, as pessoas faziam questão de ir, e eu também me senti muito homenageado numa música do Djavan em que a Gal Costa cantava e dizia “só falta ir no programa do Jô”, eu fiquei bobo.

SBT News: Teve alguma entrevista que você quis muito fazer e não rolou?

Jô Soares: Não, que eu me lembre assim não.

SBT News: Nem o Silvio Santos?

Jô Soares: O patrão claro que eu queria, mas ele não, não há hipótese. “Se eu fizer pra você, eu tenho que fazer pra todo mundo”, ele dizia. Acabou que ele é que me entrevistou no último dia que eu estava lá, fez uma homenagem linda.

SBT News: E ele sempre te deu liberdade?

Jô Soares: Total, isso era fundamental já em contrato, eu tinha que ter total liberdade da pauta, do editorial, enfim, responsabilidade total, que a única maneira de você fazer esse programa. O Silvio tinha uma intuição de fera, e teve essa sabedoria de ver que era um programa que não dava para interferir, então vinham políticos que ligavam pra ele e ele dizia: “Não, isso aí eu não posso fazer nada”, impressionante.

SBT News: Além disso, o seu programa trouxe a figura da banda, você tinha amigos com quem você interagia o tempo inteiro nas entrevistas também né?

Jô Soares: Foi também uma exigência, tem que ter pra ter um clima durante a gravação.

SBT News: E a caneca, Jô?

Jô Soares: A caneca não sei, eu precisava de uma caneca aqui com água, mas não íamos botar um copo, que fica feio, e aí surgiu a caneca do Jô. As pessoas queriam saber o que tinha na caneca, enfim.

SBT News: O SBT nessa época era uma emissora muito aberta a novidades, a experimentar novos modelos né?

Jô Soares: Sim, tinha uma efervecência.

SBT News: Você tem saudade desse tempo?

Jô Soares: Olha, eu tenho saudade de tudo e de nada, tenho saudades do futuro.

SBT News: E qual o futuro?

Jô Soares: Ah, vamos vendo, vou dirigir uma peça agora, vou levando, vou em frente.

SBT News: O humor nunca saiu do seu horizonte, você sempre usou o humor pra pautar qualquer coisa que você fazia aqui, né?

Jô Soares: O humor pra mim é a base de tudo, de qualquer conversa até.

SBT News: Dá pra rir nesse país hoje?

Jô Soares: Cada vez menos, o país tá numa situação desgovernada, jamais pensei que o país tivesse um comando tão medíocre, enfim. Além de ameaças sem sentido: não vai ter eleição, como? Pensa que tá numa republiqueta no meio da selva, não tá. O governo não tem noção o que é. Mas eu confio integralmente na Constituição, em qualquer abalo que possa ter, eu acho que a Constituição foi muito bem protegida, vamos torcer.

SBT News: Você foi feliz aqui no SBT?

Jô Soares: Muito feliz, sou eternamente grato ao Silvio Santos, porque sem ele eu não teria feito o programa que é o mais importante da minha vida. Manda um beijo pra ele.