Sucuris são vistas em rios de MS com mais frequência nesta época do ano

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Ficar cara a cara com uma sucuri. Estes eventos têm sido mais frequentes ultimamente nos rios de Mato Grosso do Sul. O G1 ouviu especialistas para saber os porquês destes flagrantes. Eles explicaram que as baixas temperaturas e o período reprodutivo estão atrelados diretamente à aparição das serpentes. Com isso, os registros aumentam durante o final do outono e começo do inverno.

Em Bonito, região sudoeste de Mato Grosso do Sul, expedições para avistar esses animais que podem chegar até 7 metros de comprimento, atraem fotógrafos subaquáticos de várias parte do mundo. Eles vão até o local em busca desses flagrantes que representam, na verdade, a oportunidade de observar – e registrar – esse animais. No entanto, em 2020 essas excursões foram canceladas, por conta da pandemia.

A doutora em ecologia pela Universidade de São Paulo (USP) e que também coordena um projeto voltado para as sucuris na região de Bonito, Juliana Terra, explica os principais motivos que facilitam observar as grande cobras. A especialista ressalta que nessa época do ano, é bastante comum que tenha o aumento da possibilidade de avistar as sucuris, isso por causa da chegada do inverno, momento em que as serpentes buscam manter-se aquecidas por meio da luz solar.

“Não é nada atípico desse ano. Pelo contrário, é bastante comum e tem alguns motivos para isso. O principal é a temperatura. Quando chega maio ou junho, quando vamos entrando em períodos e baixas temperaturas. Então é assim, sempre antes ou após uma frente fria, é comum que elas utilizem as horas do dia do sol para se aquecerem, já que a água nessa época fica muito fria, especialmente durante a noite. Então é comum que elas busquem sair da água, busquem as margens dos rios ou barrancos que sempre ficam próximos dos leitos. Ali elas buscam se aquecer sob o sol”, e ainda acrescentou:

“Não que nas outras épocas do ano elas não estejam ali. Qualquer época do ano elas estão neste local, só que a gente não consegue vê-las. São animais bastante quietos, não fazem barulho, elas são muito camufladas na água com sua coloração, enfim, é muito difícil avistá-las”, detalhou Juliana.

A especialista explica que as sucuris são ectotérmicos, ou seja, animais que não produzem calor metabolicamente, assim, buscando o aquecimento fora da água, momento em que a maioria dos registros fotográficos são feitos.
“Répteis em geral, são animais ectotérmicos que não produzem calor metabolicamente, diferente dos mamíferos. Então elas dependem de fonte externa de calor para se aquecer. Os ditos animais de sangue frio, que é um pouco errônea essa expressão, precisam sair para pegar um sol e desenvolver sua temperatura adequada para desenvolver sua atividades”, pontou a especialista em sucuris.

Uma outra explicação para as aparições, apresentada por Juliana, é o início do período reprodutivo. “Elas já estão entrando nesse período que corre de julho a outubro, então devido a isso começa a ser possível observá-las. Pois os animais ficam mais ativos no ambiente, as fêmeas começam a procurar o local adequado para a copular e os machos vão atrás delas”.
Os feromônios, hormônios liberados pelas sucuris fêmeas, que são sempre maiores, durante o processo de copulação faz com que mais machos da espécie saiam à procura do acasalamento, assim, aumentando a chance de ver os répteis, como a especialista explica.
Segundo o biólogo Daniel De Granville, que também trabalha como guia em expedições para a observação desses animais no estado, explica que no inverno é o período de acasalamento da espécie, o que torna mais fácil de avistá-las.

“As fêmeas acham um lugar adequado para a cópula e elas liberam feromônios. Esse feromônio atrai todos os machos da região. Então como eles estão nessa atividade, realmente aumenta a movimentação deles no ambiente e com isso a chance de poder avistá-los”, disse Juliana que ainda reforçou:

“Agora começa a época delas se deslocarem, Mas é a partir de junho, setembro é a época que acontece o acasalamento. Depois elas vão entrar no período de gestação que pode durar até seis meses até parir os filhotes. Então a gente presume que lá por fevereiro ou abriu mais ou menos, é quando ela vai parir”, explicou ao G1.
Juliana, que desenvolve pesquisas com as sucuris desde 2015, em Bonito, deixa claro que os avistamentos das cobras devem ser respeitoso. Ela disse que o fato desperta curiosidade nas pessoas, mas o distanciamento é a principal forma de mostrar a atitude ao animal, explicou a especialista.
Para tudo ficar “ok”, Juliana diz que os turistas não devem importunar as sucuris. “Os animais não oferecem risco algum, são muito tranquilos. O problema realmente é quando as pessoas querem importuná-las, temos que manter uma distância segura que tudo ficará ‘ok’. Esses turistas vão para Bonito para os turismo aquático. Com muitos turistas nos rios, já teria acontecido alguns acidentes, mas nunca aconteceu. O ponto primordial é o respeito. Elas não são um monstro como as pessoas acham que são”, frisou a doutora em biologia.
O coronel da Polícia Militar Ambiental (PMA), Ednilson Queiroz, disse que os animais silvestres nas regiões turísticas de Mato Grosso do Sul já vivem em conveniência com as pessoas, porém o distanciamento é fundamental.
“A fauna não se afasta muito por causa desta convivência. Uma fauna que tem menos convivência, vai se afastar sempre, mais rapidamente, da população humana. Mas a tendência de toda a fauna, inclusive as serpentes não é diferente. Quando tem a presença humana, eles se afastam”, detalhou Queiroz.
O coronel comentou que no caso das sucuris, a distância entre pessoa e serpente deve ser respeitada. Queiroz explica que ao ver uma cobra, sejam as gigantes que vivem nos rios de Mato Grosso do Sul ou de outras espécies, a forma de se portar é única: “a pessoa não deve se aproximar, pois qualquer animal que sente uma pessoa se aproximando a uma distância que ele seria atacado, ele pode atacar. A principal situação em que os animais atacam é quando eles se sentem ameaçados”.
No caso das serpentes, Queiroz diz que os ataques acontecem quando as pessoas pisam em um raio de distância, onde a cobra se sente segura. As famosos fotos são liberadas, respeitando o distanciamento.

“A orientação é que as pessoas não se aproximem muito e podem fazer as filmagens, pois isso que o turismo cênico faz. Mas com distância segura. Não deixem crianças se aproximarem, pois sempre há um risco embutido”, explicou.
Queiroz destacou que os rios de Bonito já se tornaram icônicos, quando se fala das sucuris gigantes. Ele falou que lá, as serpentes e as pessoas vivem de forma tranquila, pois o fator primordial é o respeito das pessoas em relação ao habitat natural do animal silvestre.
Policial ambiental capturou animal e o levou para região distante da cidade em MS — Foto: PMA/Divulgação
De janeiro até maio de 2021, a Polícia Militar Ambiental (PMA) já resgatou cerca de 48 cobras, das mais diversas espécies, em áreas urbanas de Mato Grosso do Sul. A polícia destacou que é muito difícil de haver a captura de sucuris, pois elas são cobras mais aquáticas e se movem mais lentamente, por conta do tamanho.
O relatório mostra que a maioria das cobras resgatadas são as jiboias, ao todo foram 17 nos primeiros cinco meses deste ano. O alerta ao ver outras cobras é o mesmo, manter o distanciamento